Autoridades turcas detiveram mais de mil pessoas numa semana

Número avançado pelo Ministério do Interior de detenções ainda em relação a suspeitas da tentativa de golpe do ano passado.

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Protesto contra a detenção e processo dos 17 jornalistas do Cumhuriet, na semana passada em Istambul ERDEM SAHIN/EPA
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Manifestação em apoio aos detidos do jornal Cumhuriyet ERDEM SAHIN/EPA

A tentativa de golpe foi há mais de um ano, mas a purga continua. As autoridades turcas anunciaram esta segunda-feira a detenção de 1098 pessoas ao longo da semana passada por ligações à tentativa falhada de golpe de Estado de 15 de Junho do ano passado.

O Ministério do Interior informou em comunicado que 831 destas detenções foram de pessoas com ligações ao líder religioso Fethullah Gülen, que vive exilado nos Estados Unidos, e que Ancara culpa pela tentativa de golpe, segundo a agência Reuters. Outros 213 detidos eram suspeitos de ligação ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que as autoridades turcas consideram um grupo terrorista; 46 por alegadas ligações ao Daesh, e ainda oito supostos membros de “grupos terroristas de esquerda”.

Durante o último ano, as autoridades da Turquia detiveram cerca de 50 mil pessoas e despediram ou suspenderam 150 mil no Exército, organismos públicos e também no sector privado.

Entre estes estão vários jornalistas, muitos do mais antigo jornal turco, conotado com a oposição, e também correspondentes estrangeiros como o repórter do jornal alemão Die Welt, Denis Yücel. Na semana passada, um tribunal ordenou a libertação de sete dos 17 jornalistas do Cumhuriyet acusados (há mais de 170 jornalistas presos na Turquia), num processo que foi visto como um teste ao Estado de direito no país. O correspondente do diário britânico Financial Times notava a ausência de notícias sobre o caso nos restantes media turcos.

Depois de vários relatórios de organizações de defesa de direitos humanos chamarem a atenção para o perigo de desrespeito de direitos fundamentais na Turquia pós-golpe, foram os próprios responsáveis das ONG a ser detidos: a directora da Amnistia Internacional, Idil Eser, junto com outros nove activistas de direitos humanos, e antes deles, a presidente da Direcção da organização, Taner Kilic.

O Governo turco diz que a purga é necessária pelo grau de ameaça representada pelos apoiantes de Güllen. Depois de uma anterior proximidade com o AKP, o partido do Presidente Recep Tayyip Erdogan, quando este chegou ao poder, o movimento de Güllen passou a ser tratado com animosidade pelo partido no poder, que dez anos depois o acusa de promover um “Estado paralelo” na Turquia.

Os opositores dizem que Erdogan está a usar o golpe para neutralizar também oposição legítima.

A detenção de uma série de alemães na Turquia levou, entretanto, o Governo da Alemanha a alertar os seus cidadãos de que quem quer que viaje para aquele país corre o risco de ser detido.

Depois de Berlim anunciar uma “reorientação da política externa” em relação à Turquia, a agência Reuters diz que o Governo de Angela Merkel pediu à Comissão Europeia para suspender o trabalho preparatório das negociações para a união aduaneira UE-Turquia, e propunha uma série de medidas para aumentar a pressão financeira sobre Ancara. 

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