Miguel Lobo Antunes sai de cena com "programação feliz"

A estreia de We’re Gonna Be Alright, do grupo Cão Solteiro e do realizador André Godinho, abrirá em Setembro a última temporada da Culturgest ainda desenhada pelo programador.

Fotogaleria
Peça para Pessoa e Tijolo, criada pela australiana Nicola Gunn a partir de um episódio que testemunhou Gregory Lorenzutti
Fotogaleria
Lia Rodrigues, com Para que o céu não caia, uma coreografia que tenta manter a harmonia do universo Sammi Landweer

Elizabeth Costello, uma peça da encenadora Cristina Carvalhal inspirada no romance homónimo do Nobel da Literatura J. M. Coetzee, Peça para Pessoa e Tijolo, criada pela australiana Nicola Gunn a partir de um episódio que testemunhou — uma pata que protegia os seus ovos estava a ser apedrejada por um homem a quem os filhos iam fornecendo pedras —, e We’re Gonna Be Alright, o novo espectáculo que o Grupo Cão Solteiro construiu com o cineasta André Godinho, são algumas das principais estreias da nova temporada da Culturgest, a última a ter o dedo do administrador Miguel Lobo Antunes, que já anunciara a decisão de sair em 2017, quando cumpre 70 anos, para deixar “entrar sangue novo”.   

No texto que redigiu para apresentar a nova temporada, explica que há períodos em que a programação da Culturgest lhe parece "particularmente feliz" e diz acreditar ser o caso desta que agora foi divulgada para o último quadrimestre de 2017, que se iniciará a 7 de Setembro precisamente com We’re Gonna Be Alright. Depois da sua anterior colaboração em Day For Night, que esteve na Culturgest em 2014, a companhia das irmãs Paula e Mariana Sá Nogueira e o cineasta André Godinho voltam a explorar as relações entre cinema e teatro, num espectáculo que aborda o cinema comercial mostrando o que acontece quando a obsessão pelos efeitos especiais é levada ao ponto em que estes se tornam pura exibição, substituindo a narrativa que deveriam servir.

Numa programação que inclui teatro, dança, música, artes visuais, ciclos de conferências e cinema (no final de Outubro, a Culturgest acolhe o DocLisboa), Miguel Lobo Antunes destaca, no texto que escreveu para acompanhar esta última temporada que ainda lhe coube organizar, alguns artistas “muito da casa”, como o grupo holandês Kassys, que regressa com O Guião, uma peça que parte da ideia de dar o mesmo papel a seis intérpretes diferentes sem que estes contactem entre si, ou, na dança, o alemão Raimund Hoghe, que trará Songs for Takashi, e Lia Rodrigues, com Para que o céu não caia, uma coreografia que tenta manter a harmonia do universo e evitar que o céu nos tombe na cabeça, como receava, dando voz a antiquíssimos mitos, o chefe da tribo gaulesa de Astérix. Ainda na dança, outro regresso, o de Loïc Touzé, com Fanfare.

Na música, além dos ciclos Jazz + 351 e Isto é Jazz?, comissariados por Pedro Costa, por onde passarão o grupo do pianista e compositor Luís Barriga, a cantora Beatriz Pessoa ou o quarteto escandinavo Oker, o Grande Auditório da Culturgest acolherá, já no dia 16 de Setembro, um concerto a solo do guitarrista Norberto Lobo. “Como ele propôs, vem sozinho, com as suas guitarras, tocar o que quiser”, explica Miguel Lobo Antunes.

Em Novembro, a digressão dos Mão Morta, comemorativa dos 25 anos do seu disco de estreia, Mutantes S.21, passa pela Culturgest, que no mesmo mês receberá o tocador de cora senegalês Sechou Keita, num concerto focado no álbum 22 Strings. Em Dezembro, o fadista Pedro Moutinho apresentará o espectáculo A Noite nos Poetas do Meu Fado.

No domínio das exposições, a proposta mais irrecusável é certamente Time Capsule, que mostrará a colecção completa da revista Aspen, criada pela empresária Phyllis Johnson, de que saíram dez números entre 1965 e 1971. Cada número era uma caixa recheada com materiais diversos – de textos e cartazes a discos em vinil e filmes em Super-8 –, que se pretendia que funcionasse como uma cápsula do tempo, conservando para memória futura o essencial do espírito criativo de uma época. O terceiro número, concebido por Andy Warhol e David Dalton e publicado no final de 1966, incluía, entre outros materiais, um folioscópio baseado no filme Kiss, do próprio Warhol, o filme Buzzards Over Bagdad, de Jack Smith, um disco de John Cale, que no ano anterior fundara os Velvet Underground com Lou Reed, e uma colecção de excertos dos ensaios que Timothy Leary e outros autores tinham apresentado numa conferência da Universidade de Berkeley dedicada ao LSD.

Montada a partir da colecção particular de António Neto Alves, a exposição inaugura-se a 14 de Outubro e poderá ser vista até 7 de Janeiro de 2018, mostrando, além dos números da Aspen, um conjunto de memorabilia da contracultura americana dos anos 60, incluindo livros, revistas e cartazes ligados às várias personalidades que colaboraram no projecto.

Sugerir correcção
Comentar