Os “miúdos de Hagi” estão cada vez mais crescidos

Viitorul Constanta, clube fundado há apenas oito anos, já foi campeão da Roménia e está na luta por um lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões

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DR/Viitorul Constanta

Histórias de clubes que protagonizam ascensões fulgurantes há muitas, mas a do Viitorul Constanta promete ser diferente das outras. Porquê? Ao contrário de muitos fenómenos do género, que surgem como cometas, rasgam o céu a alta velocidade e rapidamente desaparecem, este emblema romeno tem um plano para ser sustentável. E tudo saiu da cabeça de Gheorghe Hagi, o mesmo que espalhou classe pelos relvados durante os anos 1980 e 1990 e a quem chamavam “Maradona dos Cárpatos”, e que agora está a lançar as bases para o futuro do futebol na Roménia.

Tudo começou em 2009, durante um interregno da carreira de treinador de Hagi. O ex-internacional romeno fundou uma academia de futebol a que deu o seu nome, com o objectivo de desenvolver jovens talentos e projectá-los para os patamares mais altos do futebol profissional. Hagi terá investido dez milhões de euros na construção das instalações, situadas na cidade onde nasceu, e que incluem oito relvados e edifícios para alojamento e serviços, onde se incluem salas de aulas.

Paralelamente, Hagi fundou um clube chamado Viitorul Constanta, onde os talentos da academia dão os primeiros passos no futebol profissional. O emblema começou no terceiro escalão, mas em dois anos subiu duas vezes de divisão, chegando à elite do futebol romeno. E, após um quinto lugar em 2015-16, os “miúdos de Hagi”, como é carinhosamente tratado o clube, garantiram a estreia nas competições europeias. As recordações da terceira pré-eliminatória da Liga Europa não são as melhores (derrota 5-0 na visita ao Gent e empate 0-0 em casa), mas o crescimento do clube não se ressentiu.

Na temporada passada o projecto do Viitorul Constanta foi coroado de glória com a conquista do campeonato nacional. O clube terminou a fase regular do campeonato em primeiro lugar e, no apuramento do campeão, protagonizou um duelo intenso com o Steaua Bucareste – os dois emblemas terminaram com os mesmos pontos e o caso chegou ao Tribunal Arbitral do Desporto (TAD). O critério de desempate era o confronto directo na fase de apuramento do campeão (a equipa de Hagi tinha uma vitória por 3-1 e um empate 1-1), mas o Steaua defendia que deviam contabilizar-se também os jogos da fase regular (triunfo por 3-1 para o emblema de Bucareste e empate 2-2), o que atiraria os “miúdos de Hagi” para o segundo lugar. O TAD decidiu a favor do Viitorul e homologou a classificação, acabando com as dúvidas: campeão oito anos depois de ser fundado, o clube ia estrear-se na Liga dos Campeões.

A estreia entre a elite do futebol europeu foi positiva: na primeira mão da terceira pré-eliminatória os romenos receberam e bateram o APOEL por 1-0, faltando agora o teste em Chipre. Mas, seja qual for o desfecho, os “miúdos de Hagi” já estão a cumprir os objectivos. Mais de metade dos jogadores da equipa foi formada na academia do clube e foram vários os jovens projectados pelo Viitorul Constanta para a selecção romena (na mais recente convocatória havia três futebolistas do clube).

Graças ao trabalho no Viitorul Constanta, o apelido Hagi continuará ligado ao futuro do futebol romeno. Não só pelo influência e prestígio do nome Gheorghe, mas também do seu filho Ianis, ainda adolescente, que passou pela academia, estreou-se na equipa principal aos 16 anos e, desde 2016, representa a Fiorentina. Os “miúdos de Hagi” estão cada vez mais crescidos, e não falamos só de Ianis.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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