Mick Jagger surge de surpresa para cantar a Inglaterra perdida do "Brexit"

England lost e Gotta get a grip foram editadas agora em simultâneo porque Mick Jagger não queria perder tempo. Para o ano, diz, estas canções que falam do "Brexit" e de um mundo político povoado de "lunáticos e palhaços", podiam já ter perdido a sua relevância.

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"Portanto, estou optimista politicamente? ...Não", diz Mick Jagger Reuters/EDUARDO MUNOZ

Em 2016, os Rolling Stones fizeram um exercício de regresso ao passado ao editarem Blue & Lonesome, um álbum composto de versões dos bluesmen que os influenciaram quando, no início dos anos 1960, eram uma pequena banda a dar os primeiros passos no circuito rhythm’n’blues de Londres. Em 2017, o olhar de Mick Jagger volta-se para o presente com o lançamento de um par de novos temas, dois dias depois de, a 26 de Julho, ter completado 74 anos. Fê-lo surpreendentemente, dada a relativa escassez da sua produção a solo, e sem pré-aviso.

England lost e Gotta get a grip são as duas novas canções e, ouvindo-as, percebe-se a urgência. São a resposta do vocalista dos Rolling Stones à Inglaterra do "Brexit", no caso da primeira, e, no caso da segunda, um comentário sardónico a um mundo político liderado por “lunáticos e palhaços” que alimentam o público de “fake news”. Em comunicado, Jagger revelou que começou a trabalhar nas canções em Abril com o objectivo de as editar o mais rapidamente possível. “Não queria esperar até ao próximo ano, altura em que estas duas faixas podiam ter perdido o seu impacto significado”.

O vídeo a preto e branco de England lost mostra um homem em fuga que vai sendo atrapalhado, perseguido, impedido de o fazer por todos aqueles com que se cruza. Sob um fundo blues-rock (harmónica incluída), ouvimos uma frase que se repete: “I went to see England, but England lost” – e veremos no fim o derrotado protagonista, interpretado pelo actor Luke Evans, assobiar a melodia de Land of hope and glory, peça de fervor patriótico composta por Edward Elgar em 1902.

A canção, escreve Mick Jagger, aborda “o irreconhecível lugar em que estamos e a sensação de insegurança”: “Era assim que me sentia enquanto a compunha. Tem obviamente uma dose de humor assinalável, porque não gosto de tornar tudo muito explícito, mas também o sentido de vulnerabilidade que decorre da nossa posição actual enquanto país”.

Quanto a Gotta get a grip, onde ouvimos versos como “the world is upside down / led by lunatics and clowns / no one speaks the truth / and madhouse runs the town”, é ilustrada por um vídeo, protagonizado por Jemima Kirke, da série Girls, em que uma discoteca repleta surge como cenário de luta, de tensão e desespero. Sobre ele e a canção que o inspirou, diz Jagger: “Apesar de tudo o que está a acontecer, temos que continuar com as nossas vidas, sermos fiéis a nós mesmos e tentar criar o nosso próprio destino”. Devemos ler aqui uma escapatória optimista? “Lidamos obviamente com muitos problemas [actualmente]. Portanto, estou politicamente optimista? …Não”.

As novas canções foram também alvo de remisturas por parte de músicos como o rapper britânico Skepta e o rocker australiano Kevin Parker (Tame Impala), dois nomes que Jagger diz admirar particularmente no cenário musical contemporâneo.

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