Dificilmente suportável, de sketch em sketch

Exército de um Homem Só: registo grotesco de comédia básica

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Nicolas Cage de rédea solta...

Larry Charles tem feito carreira como homem de mão: homem de mão de Seinfeld e de Larry David (trabalhou com eles na televisão), homem de mão de Sacha Baron Cohen (foi ele o realizador dos Borat, Brüno e etc), e até homem de mão de Bob Dylan, quando, no momento mais feliz da sua carreira (no cinema, porque a televisão de Seinfeld e David é muito boa), dirigiu Masked and Anonymous, escrito e protagonizado pelo agora Prémio Nobel.

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Agora, homem de mão de Nicolas Cage. Pode ser sugestão (embora quase de certeza não seja só sugestão), mas Exército de um Homem Só parece um episódio-piloto para uma possível sitcom, centrada na personagem de Cage, caricatura do americano bruto, estúpido, crédulo, patriota e com Deus ao seu lado. Deus, que é interpretado por Russell Brand (em cenas duma prodigiosa falta de graça), pede-lhe que vá ao Paquistão procurar e liquidar Osama Bin Laden (a acção passa-se pouco tempo depois do 11 de Setembro) ­  no que é uma possível alusão à invasão do Iraque, para que Bush filho também terá adiantado a certeza dum imperativo divino.

Seja o que for: qualquer pertinência em termos de “cartoonismo” sociológico ou político perde-se num registo grotesco de comédia básica (Cage no Paquistão é outra vez Borat no Cazaquistão, a viver do “choque cultural”), a avançar de sketch em sketch, e alimentado por um Nicolas Cage que, de rédea solta, passeia um olhar permanentemente esgazeado e grita muito como se a piada dependesse do nível dos decibéis.

Muito depressa se torna dificilmente suportável, incapazes que são Charles e Cage de criar aquele tipo de “sistema”, o de Jerry Lewis ou do melhor Jim Carrey, em que a “insuportabilidade” é vivida e sentida pelo espectador com uma espécie de gozo masoquista. 

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