Satisfeito com divulgação da lista, PSD cancela conferência de líderes na AR

Em bloco, a esquerda acusa PSD de "instrumentalização" das mortes de Pedrógão Grande. Hugo Soares elogia atitude do Ministério Público.

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Daniel Rocha

Depois do ultimato e de o Ministério Público ter divulgado a lista oficial de vítimas mortais do incêndio de Pedrógão Grande, o PSD pediu esta quarta-feira de manhã a Ferro Rodrigues que cancele as reuniões que pedira no Parlamento - da conferência de líderes e da comissão permanente - para discutir a falta de publicitação dos nomes.

Hugo Soares elogiou a atitude do Ministério Público que "andou bem e pôs um ponto final naquela especulação à volta do segredo de justiça". E criticou o Executivo: "O Governo não fez o seu trabalho - fez o Ministério Público e fez muito bem."

Perante os jornalistas, o novo líder parlamentar do PSD considerou que "finalmente e de uma vez por todas foi posto um ponto final numa especulação criada pela irresponsabilidade do Governo e pela forma como o Governo quis gerir politicamente aquilo que não pode nem deve estar no domínio da política". Hugo Soares acrescentou que as famílias podem agora "pedir as indemnizações e serem ressarcidas pelos danos, pelas mortes dos familiares e continuar as suas vidas".

Admitindo que "deixou de fazer sentido a exigência" das reuniões no Parlamento, Hugo Soares disse que a bancada desiste delas. Ao PÚBLICO, o gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues confirmou que, tal como ontem aceitou o requerimento do PSD para a convocação dos encontros, também hoje o presidente do Parlamento aceitou o pedido para que estes ficassem sem efeito.

Depois da desistência do PSD, a esquerda veio em peso criticar os sociais-democratas, com a mesma acusação já usada na terça-feira - de que a direita "instrumentalizou" a tragédia de Pedrógão Grande desrespeitando as vítimas e tentando "aproveitar-se politicamente" do caso.

O deputado socialista Pedro Delgado Alves acusou PSD e CDS de tentarem "marcar pontos politicamente" inquinando um processo que devia ser "claro e transparente". Disse que o Ministério Público "foi particularmente claro na questão em que havia segredo de justiça" e que divulgou os nomes quando ele já não se justificava, e defendeu a "postura sólida, clara e de recusa da instrumentalização das vítimas" do Governo.

Executivo que, aliás, também já respondeu à direita. Pedro Nuno Santos disse que o Governo "fez o que lhe competia" e "comportou-se como devia" ao longo do processo, "deu-se ao respeito e respeitou o estado de Direito", ao contrário do PSD que fez "conscientemente" um "aproveitamento político imoral" da tragédia de Pedrógão. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares lembrou que essa atitude dos sociais-democratas já tinha acontecido antes, referindo os comentários de Passos Coelho sobre "suicídios que não aconteceram".

Pedro Nuno Santos defendeu que "o primeiro interessado" na divulgação da lista era o Executivo e que esta polémica deixa o ensinamento de que "em política não vale tudo".

O bloquista Pedro Filipe Soares disse ter havido uma "politização do que devia ser mantido para lá da esfera política - uma lista de vítimas mortais" e que a atitude do Ministério Público "eliminou qualquer ideia de falta de transparência ou de tentativa de esconder" identificação dos mortos.

O deputado comunista António Filipe acusou o PSD de "instrumentalização das vítimas de Pedrógão Grande para fazer chicana política". Defendeu a necessidade de se "acabar com estas atitudes que só desprestigiam a vida política" e de "rapidamente serem postos em prática os mecanismos de apoio àquelas populações". E o ecologista José Luís Ferreira criticou o "episódio profundamente lamentável, a falta de sentido de Estado e o desnorte do PSD" que o levou a "dar um tiro no pé".

A atenção agora deve concentrar-se no combate aos incêndios que ainda existem no país, defenderam tanto o PSD como os partidos de esquerda.

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