CaixaBank no BPI: Menos pessoas e juros, mais comissões e crédito

Os primeiros sinais da gestão do espanhol Pablo Forero à frente do BPI já se fazem notar aos balcões. Resultado foi negativo em 102 milhões de euros por factores extraordinários.

Foto
Pablo Forero apresentou ontem as contas do BPI pela primeira vez. LUSA/ANTÓNIO COTRIM

São ainda ligeiras, mas já se notam algumas mudanças no BPI desde que os donos espanhóis do banco colocaram ao leme Pablo Forero, no lugar que foi durante anos de Fernando Ulrich. Mais crédito a empresas e particulares, juros mais baixos nos depósitos, ainda menos trabalhadores e comissões mais altas, medidas que tiveram, todas, impactos no desempenho do banco. No entanto, a menor presença em Angola e o custo das saídas de trabalhadores provocaram um prejuízo de 102 milhões de euros no primeiro semestre deste ano.

Sem factores extraordinários, os lucros do BPI foram de 188 milhões de euros, mais 77% que no primeiro semestre do ano passado. É o cartão de visita de Pablo Forero, que assumiu plenas funções no passado mês de Abril. Na altura, alertou: “não esperem coisas espectaculares”. Um desígnio que cumpriu nas contas apresentadas ontem, onde os movimentos são leves mas já relevam alguns sinais de conservadorismo na gestão bancária.

Entre todos, destaca-se o forte corte de custos, que se traduziu na saída de 617 trabalhadores, “dos quais 519 correspondem ao programa de saídas voluntárias anunciado em Abril, o que implica uma redução anual futura de 36 milhões de euros nos custos de estrutura do BPI". Uma medida que surge no âmbito do plano de sinergias que o CaixaBank fixou em 120 milhões para os três primeiros exercícios após assumir o domínio do banco. E uma estratégia que já contribuiu também para uma descida em 22 milhões de euros nos custos da estrutura para além da saída de pessoal. Ainda assim, o impacto imediato deste programa de saídas foi negativo em 77 milhões de euros no resultado do semestre

À estrutura mais leve e mais barata, junta-se o menor encargo com os depósitos a prazo. Os espanhóis do CaixaBank decidiram reduzir o custo médio dos depósitos – os juros que pagam aos clientes – em 0,07% entre Abril e Junho. Apesar desta descida os depósitos aumentaram em 315 milhões de euros no semestre, contribuindo para um dos destaques dos resultados do BPI: a subida de 1.553 dos recursos de clientes, impulsionada pelos mais de 1.000 milhões captados pelos fundos de investimento.

Mas se nos depósitos o BPI decidiu pagar ligeiramente menos aos clientes, nos créditos verificou-se uma descida dos custos cobrados, em especial no consumo e nas empresas, onde se verificaram, talvez por isso, crescimentos no stock: o crédito a empresários e negócios subiu 3,5%, enquanto o crédito a particulares cresceu 5,3%. Nas grandes e médias empresas, o crédito estabilizou.

O próprio BPI sublinha que “após desalavancagem de seis mil milhões de euros entre 2010 e 2015, a carteira total estabilizou e mostra em 2017 sinais de crescimento selectivo”.

Precisamente, no crédito hipotecário, o volume ficou nos 11.069 milhões de euros, quase inalterado. Nesta componente, o BPI dá mostras de uma melhoria da qualidade da carteira. "A elevada qualidade da carteira de crédito permitiu uma descida das imparidades, em termos anualizados, de 35,8 milhões de euros no primeiro semestre de 2016 (0,32% da carteira de crédito) para 16,6 milhões de euros (0,15%) no primeiro semestre deste ano", explica o banco no comunicado divulgado esta terça-feira, acrescentando que "o custo do risco de crédito, medido pelas imparidades líquidas de recuperações de crédito anteriormente abatido ao activo, desceu de 28,6 milhões de euros (0,25%) para 7,5 milhões (0,07%), nos mesmos períodos".

Entre o que paga em depósitos e o que cobra por créditos, a margem financeira sofreu uma ligeira descida para 200 milhões de euros, também afectada por uma emissão de dívida subordinada realizada no primeiro semestre.

Outra componente de gestão corrente são as comissões. E, aqui, o CaixaBank seguiu a tendência do sector, tendo aumentado os custos dos serviços prestados aos clientes, de tal modo que o valor total cobrado subiu 5% no semestre, com uma aceleração verificada no segundo trimestre, para os 72,2 milhões de euros.

Apesar destas medidas ligeiras e nada “espectaculares”, o grande motor dos resultados líquidos do BPI continua a ser Angola. Quer de forma extraordinária, quer enquanto contributo para os resultados correntes. Por um lado, verificou-se “o impacto pontual relacionado com a contabilização da venda de 2% e desconsolidação do BFA (-212 milhões de euros após impostos)”. Por outro, e apesar deste afastamento do risco Angola decretado pelo Banco Central Europeu, o contributo da operação cresceu de 79 para 96 milhões de euros, por método de equivalência patrimonial, metade dos lucros do BPI.

Também em termos de solidez se verificou uma ligeira descida dos rácios de referência para as autoridades europeias, mas neste campo o banco, depois do apoio dado pelo novo accionista dominador CaixaBank, está dentro das metas definidas para a banca nacional. 

Sugerir correcção
Comentar