Esta inquietante Câmara de Lisboa…

Se Medina não respondesse a um munícipe seria estranho. Não responder à presidente da Assembleia Municipal é inquietante.

Lisboa foi e é para mim, cada vez mais, uma cidade de Desassossego. Sossego, por vários momentos (e monumentos) arrebatadores da sua História, pela sua Geografia e porque aqui nasceram quase todas as pessoas que me são particularmente queridas. Desassossego, porque poderia ser muito mais do que é; bastaria que os munícipes se empenhassem mais e que a câmara funcionasse e, internamente, comunicasse.

O meu primeiro contacto crítico com o trabalho realizado pela CML deu-se em finais dos anos 1980, quando li o livro Lisboa (obra apoiada pela CML), com texto de Werner Radasewsky e prefácio do vereador Victor Gonçalves. Diz o autor (homem que “tem a particularidade de saber captar o modo de viver nos países estrangeiros integrando-o na sua História e cronologia”): “Depois chegaram os Mouros que se instalaram na península durante séculos, até 1247. D. Afonso Henriques, depois de violentas lutas, expulsou-os do território português. Em 1260, deste Castelo, D. Afonso Henriques proclama Lisboa como capital de Portugal e são definidas as fronteiras do reino, que se mantêm até hoje.” (pp. 46-47) Cinco erros histórico-cronológicos em quatro linhas, é obra! E este livro foi traduzido para alemão, francês e inglês!

Em finais da primeira década deste século, a Fundação Aristides de Sousa Mendes (da qual eu era membro) quis participar activamente na organização duma homenagem ao seu patrono, com a colocação de um monumento no Jardim do Arco do Cego. Poucos dias antes do evento — que contaria com a presença confirmada do Presidente da República, do cardeal Patriarca, de embaixadores e outras altas individualidades —, a Fundação teve conhecimento de que o espaço supostamente reservado para o monumento a Aristides estava reservado para o monumento que lá está hoje: uma representação da mágica mão de Jorge Luís Borges! Alguns dias depois viríamos a saber que a presidência da câmara ignorava praticamente tudo! As cartas, entregues em mão na recepção dos Paços do Concelho, não subiram até ao gabinete da presidência!

Passemos, agora, para a câmara do Dr. Medina. Em Setembro de 2016, exausto e decepcionado por não conseguir encontrar em Lisboa um jardim limpo onde pudesse levar os meus netos, escrevi uma carta ao presidente da câmara na qual mostrava o meu espanto e indignação: “[…] Quem viver em Lisboa mais de uma semana e olhar para ela com objectividade, resistindo ao deslumbramento e ilusão que a luminosidade provoca, não poderá deixar de chegar à conclusão de que a nossa capital é uma cidade cheia de MERDA […]. Os pais e avós das nossas crianças têm muita dificuldade em encontrar um jardim limpo e agradável onde possam deixar os filhos e netos brincarem sem a constante preocupação de se depararem com dejectos de cão, vidros e beatas. […] E o que dizer em relação aos invisuais, principalmente quando pensamos nas suas deslocações diárias nos passeios de Lisboa?”

Entretanto fui contactado por um assessor do Dr. Duarte Cordeiro (vice-presidente) que me propôs uma reunião a agendar num novo telefonema. As semanas iam passando e o contacto para o agendamento da reunião não foi feito. Consegui, entretanto, contactar directamente o vice-presidente. Combinámos ter duas reuniões de trabalho, as quais aproveitei para expor detalhadamente a minha opinião sobre a falta de civismo de um número considerável de munícipes e para desafiá-lo a analisar duas propostas: uma visa o desenvolvimento do Turismo Literário (Pessoa e Sá Carneiro) em zonas da cidade com pouca carga turística; a outra propõe a criação de um Evento Cultural Âncora anual entre 7 e 13 de Junho, período que engloba os aniversários do Tratado de Tordesilhas, de Camões, de Santo António e de Pessoa.

As promessas que me foram feitas agradaram-me e resolvi esperar. Em finais de Março, como o prometido estava esquecido, apresentei uma reclamação na Assembleia Municipal. Com enorme rapidez a presidente da Assembleia Municipal (Arq.ª Helena Roseta) escreveu ao presidente do executivo, solicitando que fosse “providenciada a informação a ser prestada ao exponente”.

Estamos em Julho e a informação, apesar de nova carta de Helena Roseta a Fernando Medina, não foi providenciada!... Se Medina não respondesse a um munícipe seria estranho, não responder à presidente da Assembleia Municipal é inquietante.

Tendo em consideração que as eleições autárquicas estão à porta, quero deixar aqui bem claro que gostaria que este texto não fosse interpretado como um manifesto partidário (se as eleições fossem hoje, eu votaria nulo). Quero, somente, que:

  • haja respeito e comunicação entre os órgãos do poder municipal;
  • seja dada mais atenção ao Turismo Cultural;
  • seja possível encontrar, sem dificuldade, espaços verdes públicos onde avós e pais possam brincar e sonhar com as suas crianças;
  • os invisuais consigam caminhar nos passeios desta cidade de luz com segurança e dignidade.
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