CDS tenta fechar caso Ventura candidatando Pedro Pestana Bastos a Loures

Concelhia vota esta terça-feira em plenário o novo nome proposto por Cristas. Para Outubro, o "objectivo claro é ter mais votos que o PSD", diz o candidato.

Foto
A decisão de Assunção Cristas retirar o apoio ao candidato da coligação PSD-CDS-PPM em Loures foi contestada no interior do partido. Nuno Ferreira Santos

Foi uma das vozes críticas das polémicas declarações de André Ventura sobre ciganos e é agora a proposta da direcção do CDS-PP para a corrida à Câmara de Loures: o advogado Pedro Pestana Bastos, de 47 anos, vai submeter-se esta terça-feira à noite à decisão dos militantes da concelhia, porque, diz, a única condição que impôs para entrar na corrida foi que o seu nome fosse aprovado por maioria.

"Não aceito ser uma candidatura imposta pela direcção contra a vontade dos militantes da estrutura de Loures", disse ao PÚBLICO, acrescentando que o seu "objectivo claro é ter mais votos que o PSD".

"O que está em causa é o modelo de direita que queremos para Loures e para o país", defende Pedro Pestana Bastos. "O PSD mostrou em Loures que não é um partido recomendável fazendo coligação com a CDU: o vereador social-democrata tem pelouros e viabiliza os orçamentos da câmara, traindo os votos de quem votou no PSD. Ficámos ali com uma coligação vodka com laranja única no país", critica o centrista.

Ao PÚBLICO, o advogado conta que há uma semana disse a Assunção Cristas que, "se não houvesse alternativa, estava disponível para assumir o comando de uma lista centrista". O CDS-PP ficou com o problema nas mãos, depois de a presidente ter retirado o apoio a  André Ventura, o candidato da coligação entre PSD-CDS-PPM para Loures.

Na altura, a número três da lista, Isaura Mariño Lourenço, a primeira centrista, disse partilhar da opinião de André Ventura, mas viu-se forçada a deixar a coligação e já contou que recusou liderar uma lista própria do CDS-PP. A sua inclusão está fora de causa. "À partida, se se revê nas palavras de André Ventura, não estará disponível para integrar a lista de alguém que as considera graves", admite o novo possível candidato.

Mas a decisão de Assunção Cristas de retirar o apoio a André Ventura por, entre outras declarações, ter dito em entrevista que "os ciganos vivem quase exclusivamente dos subsídios do Estado", foi alvo de contestação interna no partido. Alguns dirigentes recordaram ao PÚBLICO que, por exemplo, o antigo líder do partido Paulo Portas chegou a criticar o Rendimento Social de Inserção (RSI) como um "financiamento à preguiça", tendo até sido insultado por ciganos na campanha para as legislativas de 2009.

"Nunca o PSD e o CDS tinham passado esta fronteira: as declarações de André Ventura são xenófobas, é um discurso perigoso e não deve ser admitido por estes partidos", critica o advogado centrista. "Há problemas de segurança, de subsidiodependência, ou de integração que existem em Loures e em outros locais do país, mas não se pode usar o ressentimento e o medo que as pessoas têm generalizando nos ciganos e muçulmanos esses problemas. A generalização é inaceitável."

E insiste: "Não podemos fazer uma campanha dos bons contra os maus. Isso pode render votos, mas não devemos ceder a esse tipo de populismo." Pedro Pestana Bastos ironiza e diz mesmo que com um discurso desses, o CDS "poderia coligar-se com o PNR".

A nova lista está ainda a ser construída, admite Pedro Pestana Bastos, mas já se sabe que a primeira candidata à Assembleia Municipal será Lisette Teixeira do Carmo, actual deputada municipal e também presidente da concelhia.

Membro da Comissão Política Nacional, Pedro Pestana Bastos já foi deputado à Assembleia da República durante um mês, em 2005, enquanto os deputados eleitos pelo CDS não saíram do Governo de Pedro Santana Lopes para dar lugar ao executivo de José Sócrates; e integrou a lista do CDS em Leiria liderada por Assunção Cristas, em 2011, mas não foi eleito. Agora, se os militantes o confirmarem - como acredita "que a esmagadora maioria fará" -, estreia-se nas lides autárquicas.

O advogado fez parte do movimento Alternativa e Responsabilidade, de oposição a Paulo Portas, dinamizado por, por exemplo, Filipe Anacoreta Correia. E foi também candidato à liderança da concelhia de Lisboa do CDS-PP, derrotado por João Gonçalves Pereira. Integra, há 20 anos, como sócio-fundador, o escritório de advogados Nobre Guedes, Mota Soares e Associados - liderado pelos centristas Luís Nobre Guedes e Pedro Mota Soares.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários