Fake news, perfis falsos, blogues anónimos: as autárquicas na Madeira também se jogam aí

Com as eleições de 1 de Outubro no horizonte, a Internet tem sido o palco privilegiado pelos partidos. Muitas vezes, à boleia de páginas e perfis anónimos.

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Rubina Leal integrava o Governo regional e agora é candidata do PSD-Madeira à Câmara do Funchal Miguel Moniz/PSD-Madeira
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Rubina Leal integrava o Governo regional e agora é candidata do PSD-Madeira à Câmara do Funchal Miguel Moniz/PSD-Madeira

Perfis falsos nas redes sociais. Um blogue anónimo que, todos os dias, logo pela manhã, vai criticando as políticas do governo madeirense e do PSD que o suporta. Um jornal digital, entretanto adormecido, onde apenas se liam textos favoráveis a Paulo Cafôfo, o presidente da Câmara do Funchal. Um blogue, dirigido pelo ex-director da RTP-Madeira, em cujas caixas de comentários se pratica a contra-informação.

As autárquicas na Madeira, com epicentro no Funchal, jogam-se este ano, mais do que nunca, nas redes sociais, e nem sempre com regras claras. Há cerca de um mês, a coligação Confiança, que reúne os partidos que apoiam a reeleição do independente Paulo Cafôfo na Câmara do Funchal, repudiou em comunicado uma notícia veiculada numa página no Facebook, que avançava que o presidente do município iria entregar vouchers de uma conhecida rede de eletrodomésticos e vales de desconto para supermercados. “Sejam ricos ou pobres”, lia-se na notícia.

No meio da indignação, a candidatura de Cafôfo apontava o dedo a Rubina Leal, a agora ex-secretária regional da Inclusão e Assuntos Sociais do governo madeirense, que se candidata ao Funchal pelo PSD, pois a notícia tinha sido partilhada numa suposta página de apoio à social-democrata. Leal apressou-se a desmentir. A página não só não era oficial, como já tinha sido denunciada por usar “abusivamente” a identidade da candidata, replicando o estilo do discurso e misturando acções de campanha com posts desalinhados.

Rubina Leal respondeu que ela sim, tinha razões de queixa e anunciou uma participação criminal contra desconhecidos. A página, depois da polémica, desapareceu, mas outras permanecem.

Como o blogue "renovadinhos". O título joga com a palavra "Renovação", o lema de candidatura de Miguel Albuquerque às eleições internas de 2014, em que o partido escolheu o sucessor de Alberto João Jardim. Aqui o alvo está identificado: o novo PSD-Madeira.

Jardim rejeita qualquer ligação à plataforma, mas nas entrelinhas descobrem-se muitas semelhanças com o discurso que o antigo líder madeirense adoptou durante as quase quatro décadas que esteve à frente do arquipélago. O blogue começou em Maio, menos de um mês depois de Albuquerque assumir a presidência do governo, e a par das críticas ao executivo, ao partido e às candidaturas autárquicas, tem insistido na “falta de memória” dos actuais dirigentes social-democratas sobre as conquistas anteriores do PSD.

Mais sofisticado, é (ou era) o jornal digital Correio da Madeira. Mas de autoria igualmente anónima. Entre notícias de agenda e análises políticas assinadas por pseudónimos, como Lúcifer Belzebu, o jornal, que tem estado offline, era bastante profissional no design. Disponibilizava até uma app para smartphones e tinha espaço publicitário. A autarquia do Funchal foi um dos anunciantes.

Sempre com um alinhamento editorial próximo de Paulo Cafôfo e críticas constantes tanto ao governo como ao PS local, o Correio ficou conhecido pelas análises corrosivas, algumas a ultrapassar os limites, a políticos e empresários. Assumia-se como um site de actualidade regional comentada da Madeira. “Uma ‘prova cega’ de vinhos, [em que] a influência da marca sucumbe para dar lugar ao conteúdo”, escreveram os autores, para justificar o anonimato.

Tem sido assim desde que Outubro começou a desenhar-se no horizonte. As redes sociais têm sido palco de uma batalha de informação e contra-informação, muitas vezes a reboque de perfis ou páginas falsas. O Zé Vilão é outro exemplo. Através de cartoons, a política da autarquia funchalense vem sendo satirizada, numa página que não esconde as preferências social-democratas.

Mas toda esta guerrilha virtual tem convergido para o blogue do antigo director da RTP-Madeira, Luís Calisto. É no Fénix do Atlântico que os partidos querem estar. O site vem dando cobertura a comunicados e iniciativas dos vários actores políticos, mas nas caixas de comentário o nível desce e a desinformação tem reinado. 

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