A dignidade

As leis que ofendem a dignidade de pessoas pacíficas são elas próprias actos violentos: precisam de ser destruídas.

Se fosse forçado a escolher uma só chave para compreender a vida humana, de todas aquelas que conheci e usei, seria a dignidade. A consideração da dignidade de cada pessoa, conforme o entendimento necessariamente subjectivo que ela tem, é aquela que mais ajuda a começar a compreender, através da capacidade humana, por muito pouca que ela seja, para a empatia.

A compreensão e a aceitação estão ligadas mas é preciso separá-las para fazer realçar a dignidade. Tolerar implica uma superioridade inaceitável: a pessoa que tolera a pessoa intolerante acha-se superior, por ter a tolerância em boa conta. Mas não é. Não pode ser, por uma questão de dignidade que só pode ser definida por cada pessoa diferente.

A aceitação não pode ser o resultado de uma deliberação – tem de ser um reconhecimento imediato da dignidade das outras pessoas, consideradas uma a uma, conheça-se ou não, compreenda-se ou não. Assim como aceitamos que as pessoas sejam do Sporting ou do Manchester City – mesmo sem conhecê-las, sem ter de compreendê-las – não faz sentido, no que toca à maneira como cada pessoa escolhe como se define, incluindo quaisquer graus de indefinição, que estas escolhas sejam consideradas como propostas que requerem a nossa aprovação ou tolerância.

A dignidade é ofendida pela violência. A violência é inaceitável. As leis que ofendem a dignidade de pessoas pacíficas são elas próprias actos violentos: precisam de ser destruídas. A dignidade humana exige ser automática – mas está muito longe de ser.

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