Soundlapse é a estreia em disco de Tiago Machado, um “músico camaleónico”

Pianista, compositor, Tiago Machado andou por vários géneros musicais até fixar a sua identidade num disco, que agora mostra ao vivo.

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Tiago Machado fotografado para a capa de Soundlapse CARDELI

Andou associado a projectos pop, funk, hip-hop e fado. Ouvia jazz e música de fusão em casa, e aprendeu a gostar de clássica no Conservatório. Pianista, compositor, produtor e arranjador, Tiago Machado lançou o seu primeiro disco a solo, Soundlapse e começa agora a apresentá-lo ao vivo pelo país. Este sábado estará na Fnac Oeiras, às 16h.

Lisboeta, nascido na freguesia de São Jorge de Arroios em 27 de Maio de 1979, é filho de pianista (José Machado, dos Chinchilas, um dos grupos pioneiros do rock português) mas o pai, diz, nunca o pressionou. “Mesmo depois de perceber que eu tinha jeito.” Ele tirava música de ouvido. “Sempre com a ideia de criar música, não de tocar coisas dos outros.”

Estudou primeiro na Liga dos Amigos de Queluz (onde então vivia) até aos 12 anos e aos 14 entrou no Conservatório. “O meu pai, além do piano, tinha teclado e um sequenciador, que eram os computadores da altura. Era a minha brincadeira, a minha ‘playstation’.” O seu percurso, diz, “é um bocado ao contrário” do dos seus colegas de Conservatório. O meu pai tinha uma boa discoteca de jazz, fusão, coisas assim, e eu já assimilava aquilo de outra forma. Por isso eu já ia com mais conhecimento harmónico para o Conservatório (onde nasceu a minha paixão pela música clássica) do que a maioria dos meus colegas.”

Começou por tocar em bares de Lisboa, música dos anos 1960, num grupo que ainda existe (Blue Jeans) e foi conhecendo outros músicos. “Um deles foi a Mariza. Ainda cheguei a gravar com ela uma maqueta de músicas pop!” Depois andou pelo Speakeasy, como teclista nos Funky Messengers (com João Maló, Carmen Souza e Theo Pascal). Mais tarde, viria a acompanhar Mariza mas já nos caminhos do fado. “Considero-me um músico camaleónico. Tudo isto tem sido uma aprendizagem para mim, com a experiência dos anos, mas é preciso percebermos como é que temos de servir a música, consoante os estilos que estamos a tocar, e saber se temos os recursos e os conhecimentos para isso.”

O primeiro fado que gravou foi Ó gente da minha terra, num disco de Mariza, com letra de Amália e arranjo dele. “Quando se está a acompanhar o fado não se pode ser nem demasiado pop nem demasiado clássico, porque o fado é uma coisa muito própria.” E Mariza acabou por surgir a cantar no primeiro disco a solo de Tiago. O tema chama-se Meu Portugal e foi composto por Tiago a partir de um poema de Florbela Espanca.

“Este trabalho é um condensado de várias coisas que eu sou como músico. Tentei, de uma forma que acho coerente, juntar tudo num trabalho. Componho muito e já tinha isto na cabeça, gravar algo meu.” Ser pai duas vezes, praticamente consecutivas, ajudou-o. Aliás, a voz do seu filho mais novo, ainda bebé, surge num tema escondido (My blue eyes) no fim do disco. Tiago gravou-o quando, numa tentativa falhada de adormecer, ele parou de chorar, empoleirou-se no berço e começou a falar com o pai. Feita a gravação, mais tarde em estúdio Tiago seleccionou as partes “que faziam sentido melódico” e criou a música.

Os temas do disco, todo ele instrumental (excepto a faixa onde canta Mariza), têm, todos eles, “uma história por trás, pessoal mas que eu tento generalizar no sentido de que são assuntos que dizem respeito a qualquer ser humano.” Ele explica isso no disco, em curtas frases, e há-de explicá-lo ao vivo. Mas “as músicas vivem por elas”. E isso basta-lhe. 

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