“A música brasileira mudou muito, é híbrida, fala com muitas linguagens”

Maria Gadú e Filipe Catto vão estar no mesmo palco este domingo, no EDP Cooljazz, em Oeiras. Ela vai mostrar as ousadias de Guelã, ele vai ligar numa mesma Tomada o Brasil, Agualusa e António Variações

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Maria Gadú em SIMONE KONTRALUZ
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Filipe Catto DIEGO CIARLARIELLO

São da mesma geração, vivem na mesma cidade (São Paulo) e são amigos. Além disso, valorizam a arte um do outro. Maria Gadú e Filipe Catto, brasileiros, ela paulista e ele gaúcho, vão estar este domingo na 14.ª edição do EDP Cooljazz, nos Jardins do Marquês de Pombal, em Oeiras, às 21h30.

Maria Gadú apresenta Guelã, num momento em que o respectivo disco ao vivo (CD+DVD) chega às lojas portuguesas. Traz os mesmos músicos que a acompanharam em Março de 2016, quando Guelã se estreou em Portugal, no CCB e na casa da Música: Federico Puppi (violoncelo), Lancaster Pinto (baixo) e Felipe Roseno (bateria e percussão). Mas o alinhamento já não é o mesmo. “Quando eu fiz essa tournée”, diz ela agora ao PÚBLICO, “eu estava mais presa aos conceitos sonoros do disco e ao repertório, também para defender esse trabalho como um trabalho autoral. Agora que a digressão está a acabar, a gente foi integrando outras coisas, coisas antigas, gravadas anteriormente, mas dentro da linguagem sonora de Guelã, com aquela instrumentação e aquela amplitude.” No final, além de Semi-voz ou Dona Cila, ouvir-se-ão também Linda rosa ou Quando fui chuva.

Filipe Catto, que abrirá a noite, terá consigo também os mesmos músicos: Alexandre Bernardo (guitarra), Vasco Moura (baixo) e Pedro Gerardo (bateria). Todos portugueses. “São maravilhosos”, diz Filipe ao PÚBLICO. “Eu gosto muito dessa coisa de ter eles aqui. Confio muito neles.” No tempo que lhe cabe, Catto percorrerá os seus dois discos. “O show terá vários temas de Fôlego (Adoração, Saga, Roupa do Corpo) mas mais de Tomada. Além da música do Variações, que eu vou gravar.”

Novos discos no horizonte

Está última, Canção de Engate, foi-lhe dada a conhecer em Portugal, em 2014, pelo baterista Pedro Gerardo. “Achei linda, fui logo ouvir o Variações todo! Ele era muito moderno, as capas dos discos dele parece que foram feitas ontem!” Desde então, nunca mais deixou de a cantar. E vai até inclui-la no novo disco. “Eu assumi essa música p’ra mim, canto-a em todos os shows. Adoro essa música.” Por falar em novo disco, foi a canção de variações que lhe deu o mote. “Ela abriu o caminho para o disco inteiro. Desenleou uma série de ideias, de coisas que estou estava precisando de dizer agora.” Outra descoberta de Catto em Lisboa foi José Eduardo Agualusa. Auriflama, tema do seu disco mais recente, Tomada, tem letra dele com música da cantora e actriz brasileira Thalma de Freitas. [ele cantou-o no auditório do PÚBLICO, no dia 19 de Julho, logo no início]. “Sou louco pelo trabalho do Agualusa, ele é interessantérrimo não só na literatura como na música, porque ele é um grandessíssimo autor de canções”, diz Filipe. “Vou gravar mais coisas dele, com certeza.”

Maria Gadú também tem um novo disco em preparação. Mas não sabe se irá dar continuidade aos sons mais eléctricos e experimentais de Guelã. “Ainda estou compondo a parte elementar do álbum, é um trabalho de campo ainda. Só quando for para a pré-produção é que eu entenderei a sonoridade que ele vai ter.” Para já, tem quatro canções escritas. Data provável de edição? Março de 2018.

Maria versus Filipe

Maria Gadú e Filipe Catto, ela nascida em 1986 e ele em 1987, admiram-se mutuamente. Dele, diz Maria Gadú: “Acho maravilhoso. Excêntrico, tem uma voz maravilhosa. Precisávamos de uma voz masculina híbrida como a dele. Gosto muito da personalidade do Filipe, gosto dele como pessoa, somos muito amigos. A gente já fez uma série de canções juntos. [até há, no Youtube, uma versão a dois de Touch Me, dos Doors, para o programa Clubversão]. Tem Saga, que é uma música dele que eu adoro… Provavelmente, a gente vai fazer alguma coisa juntos nessa noite.” Filipe responde na mesma moeda: “Ela está a fazer um trabalho lindíssimo, parcerias super legais. Além de sermos amigos, somos parceiros, a gente canta junto, se encontra bastante.”

Mas Filipe encontra ainda outras razões para celebrar tal coincidência. “Acho que é muito apropriado para a noite do festival, porque é um retrato bacana do que está acontecendo na música brasileira. Porque a música brasileira mudou muito e é híbrida também, fala com muitas linguagens. E a Maria veio agora com esse disco lindo, que explora muito a guitarra, porque ela é uma excelente guitarrista. Foi uma grande descoberta para o público e para ela, talvez.” E há, aqui, um encontro geracional, que marca um novo tempo na música. Filipe: “A gente, que está vivendo em 2017, precisa entender que este tempo é urgente e a gente precisa ser firme com o nosso trabalho agora. Lutar enquanto turma, não sozinho.”

Na próxima semana, haverá mais EDP Cooljazz: Jorge Palma e Jake Bugg, no dia 25; Luísa Sobral e Jamie Lidell, no dia 26; e, a encerrar o festival, Jamie Cullum e Beatriz Pessoa no dia 29.

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