Decisão de Cristas de retirar apoio a Ventura contestada no CDS

Dirigentes e candidatos autárquicos discordam da decisão da líder do partido.

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Cristas foi criticada por romper a coligação com o PSD em Loures Martin Henrik

A decisão da líder do CDS de retirar o apoio ao candidato da coligação PSD/CDS a Loures, André Ventura, está a gerar contestação interna, apurou o PÚBLICO. Há dirigentes locais, deputados e ex-deputados que recordam a posição do partido quando Paulo Portas era líder contra a dependência dos subsídios do Estado. Aliás, essa bandeira levou a que o ex-líder fosse alvo da ira de elementos de etnia cigana na campanha de 2009.

A primeira candidata (ia em terceiro lugar na lista) indicada pelo CDS, Isaura Mariño Lourenço, recusou encabeçar o projecto por discordar da decisão de Assunção Cristas. "A posição do CDS face à polémica criada à volta das declarações de André Ventura a um jornal não é por mim compartilhada. O CDS decidiu seguir em caminho próprio e eu não aceitei encabeçar a lista", escreveu no Facebook. Mais contundente é o antigo dirigente e actual candidato do CDS à Câmara da Figueira da Foz, Mattos Chaves. Assumindo que é com "desgosto" que vê o CDS "estar sem coluna vertebral", considera que Ventura relatou "situações reais" e que esta cedência ao "politicamente correcto" vai atirar o CDS "não para o táxi dos quatro deputados mas sim para a mota (de dois ou de um deputado)". E como candidato desafia a líder: "Se me quiserem retirar o apoio façam o favor".

Outros dirigentes e militantes exprimiram nas redes sociais a indignação ou sinalizaram discordância da decisão de Cristas depois de Ventura declarar ao jornal i que "os ciganos vivem quase exclusivamente dos subsídios do Estado". Foi o caso do presidente da concelhia de Oeiras, Nuno Trindade, que partilhou uma notícia de 2009 em que o então líder criticava o Rendimento Social de Inserção (RSI) como um "financiamento à preguiça". O ex-deputado Artur Rego considerou que a questão importante é se o respeito pelos direitos das minorias "passa por uma licença ilimitada para fazer o que lhes apetece", acusando os partidos de "cinismo e falsidade do politicamente correcto". Ao PÚBLICO, dirigentes nacionais disseram estar convencidos de que esta decisão não seria tomada se Portas liderasse o partido. O CDS é defensor de um tecto para as prestações sociais não contributivas como é o caso do RSI e essa medida constava aliás do programa da coligação PSD/CDS em 2015.

O PÚBLICO tentou obter um comentário por parte da líder do CDS que remeteu para o presidente da distrital. João Gonçalves Pereira afirma distinguir, nesta discussão, entre "abusos no Estado Social" e o "apontar o dedo" a uma determinada etnia. "Aí não podemos estar de acordo porque ultrapassa para nós o que é uma linha vermelha", afirmou o dirigente.

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