Morreu o historiador e político francês Max Gallo

Escreveu mais de cem livros e foi secretário de Estado e porta-voz sob a presidência de François Mitterrand.

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Max Gallo em 2007 Charles Platiau/ REUTERS

O escritor, historiador e político francês Max Gallo morreu esta terça-feira, em Paris, aos 85 anos. Nos obituários, a imprensa gaulesa destaca a sua “paixão” pela França, pela sua História e pela República, ao mesmo tempo que o recorda como um escritor especialmente prolífico, autor de mais de uma centena de livros. A maior parte deles são romances históricos, mas cultivou também as biografias de figuras como César, Victor Hugo ou Robespierre (editados em português, respectivamente, pela Bertrand, a Europa-América e a Lello & Irmão).

Na vida política, Gallo, que se afirmava republicano e católico, teve os momentos mais mediáticos nas décadas de 80-90, quando, depois de aderir ao Partido Socialista, se torna deputado, secretário de Estado e porta-voz do primeiro-ministro Pierre Mauroy, sob a presidência de François Mitterrand.

Max Gallo nasceu em Nice, a 7 de Janeiro de 1932, filho de emigrantes italianos. Trabalhou como mecânico, e estudou Matemática antes de se formar e virar para a História, e para a História do seu país em particular: além das figuras já citadas, dedicou também biografias a Jean Jaurès, De Gaulle e Napoleão – neste caso, a saga editada em 1997 pela Robert-Laffont viria a conhecer um grande sucesso, e a tornar o autor uma referência incontornável da historiografia francesa, que lhe garantirá, de resto, a entrada na Academia em 2007, onde foi ocupar a cadeira do seu amigo Jean François Revel.

“Que preço temos de pagar para nos libertarmos dos determinismos sociais e culturais?”, perguntava em entrevista ao semanário Le Point, aquando da publicação das suas memórias, L'oubli est la ruse du diable (edição XO, 2012).

Max Gallo começou por ensinar História na sua cidade natal, no Liceu Masséna, mas em 1968 instalou-se na capital, com uma cátedra no famoso Sciences Po – o Instituto de Estudos Políticos de Paris. Nessa altura, era já um dissidente do Partido Comunista, onde militara desde a juventude e até à morte de Estaline – o estudo e o conhecimento da História terão influenciado inapelavelmente essa decisão.

Depois da ligação aos socialistas e às cadeiras do poder nas décadas de 80-90, Gallo abandona o PS em 1993, com Jean-Pierre Chevènement, com quem funda um movimento de cidadãos ao qual ficará ligado por bem pouco tempo. Homem sempre engajado, mostrava-se então desgostoso com a esquerda do seu país, e com aquilo a que apelidava “o silêncio dos intelectuais”, como denunciava nas páginas do jornal Le Monde.

Na viragem do século – lembra agora o jornal Le Figaro – , Gallo denuncia a atmosfera de crise nacional, que entroncaria já nos anos do pós-Segunda Guerra Mundial. Em livros como Fier d'être français e L'âme de la France, histoire de la nation, des origines à nos jours critica a ideia de “arrependimento histórico”. E em 2005 critica mesmo o Presidente Jacques Chirac, quando este assume e se penitencia da responsabilidade do país no Holocausto. “Não pertenço à França do arrependimento, pertenço à França orgulhosa de si mesma”, disse então.

Este afastamento da esquerda teve o seu ponto alto em 2007, quando apoiou a candidatura de Nicolas Sarkozy. Mas, no momento da sua morte, é o desaparecimento do escritor e do historiador – que desde 2015 sofria da doença de Parkinson – que a França particularmente lamenta. Parece ter-se, assim, cumprido a “profecia” do pai, quando, um dia – lembra o Le Figaro –, lhe ofereceu uma velha máquina de escrever e lhe disse: "Com isto, podes vencer grandes batalhas."

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