Turismo militar em Israel oferece a simulação de atentados a julgamentos do Hamas

Empresas que promovem experiências como treino militar básico são especialmente populares para famílias e comemorações de bar mitzvah de rapazes.

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Turistas participam num bootcamp da empresa de contra-terrorismo Caliber 3 num colonato na Cisjordânia NIR ELIAS/Reuters
Turistas participam num bootcamp da empresa de contra-terrorismo Caliber 3 num colonato na Cisjordânia
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Turistas participam num bootcamp da empresa de contra-terrorismo Caliber 3 num colonato na Cisjordânia NIR ELIAS/Reuters
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Uma visita ao Mar Morto, uma prova de vinhos e uma simulação de um atentado terrorista. Cada vez mais os turistas procuram actividades diferentes, e a experiência de Israel a lidar com terrorismo põe o país numa posição especial para ter uma oferta diversificada: de simples carreiras de tiro para aprender a disparar, até simulações de complexas operações de resgate de reféns de voos desviados, passando mesmo por programas que prometem "observar um julgamento de um terrorista do Hamas num tribunal militar isarelita".

Segundo uma reportagem do jornal diário Ha’aretz, há actualmente cerca de meia dúzia de empresas a oferecer mini-cursos de contra-terrorismo e treinos semelhantes aos do exército de Israel. Os cursos são dirigidos a estrangeiros – os israelitas têm já o seu serviço militar obrigatório.

As actividades são muito procuradas por famílias, sobretudo para celebrar ocasiões como o bar mitzva, quando se assinala a entrada dos rapazes na comunidade dos adultos, dizem vários responsáveis ao Ha’aretz.

Sharon Gat, fundador e CEO da Caliber 3, diz que entre 15 e 25 mil turistas visitaram esta academia de segurança, em Gush Etzion, um bloco de colonatos judaicos na Cisjordânia, a Sul de Jerusalém. Os primeiros e mais frequentes clientes são judeus americanos, mas cada vez mais têm aparecido turistas do Brasil, Argentina, França, Itália, Rússia e China.

As ofertas vão desde simples cursos de tiro a um programa de duas horas com simulações (um atentado suicida num mercado, um ataque com facas, uma demonstração com cães, além da carreira de tiro), e ainda uma simulação mais complexa de uma missão de resgate de reféns como a de Entebbe (quando um avião foi desviado por um movimento palestiniano para um aeroporto no Uganda, em 1976, uma operação na qual o comandante da unidade morreu - era o irmão do actual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu).

“Durante muito tempo era popular entre turistas judeus, e especialmente em viagens organizadas, visitar bases militares israelitas e encontrar-se com soldados e vê-los nos exercícios militares”, disse Hani Sand, fundador da agência Travel Composer, ao Ha’aretz (ainda hoje, o Ministério do Turismo de Israel oferece a hipótese de uma visita a uma base militar na sua página da Internet). Mas o volume de visitas era tal, diz Sand, que se tornou uma distracção para os militares, e por isso a oferta das empresas de segurança ou aventura é bem-vinda.

"Algo autêntico"

“Massada, o Mar Morto, a Cidade Velha de Jerusalém já não são suficientes”, comenta Sand. “Os viajantes hoje procuram algo autêntico e diferente, e isto enquadra-se definitivamente”.

Entre as ofertas, uma empresa destaca-se pela magnitude e preço. Uma vez por ano, acontece “The Ultimate Mission to Israel”, onde por pouco mais de três mil dólares, os visitantes podem ouvir responsáveis de segurança israelitas e ainda “assistir ao julgamento de um terrorista do Hamas num tribunal militar israelita”.

A organização desta “missão” está a cargo do centro Shurat HaDin, que tem como missão processar organizações e estados que promovam terrorismo em nome das vítimas de ataques, e que luta ainda contra o movimento BDS, que defende um boicote a Israel pela sua ocupação da Cisjordânia.

Já Caliber 3 tem a segurança e contra-terrorismo como actividade central, e começou a juntar a componente turística aos vários outros serviços em 2009.

Outras empresas apresentam a vertente militar como parte de um pacote de desportos radicais e actividades ao ar livre.

Videos promocionais da Funtom mostram grupos ao ar livre, a fazer escalada e de seguida a disparar. O fundador da empresa contou ao Ha’aretz que o programa mais popular é o de quatro horas, em que é feita uma espécie de imitação do treino básico do exército de Israel.

Os participantes usam as fardas do exército, comem refeições semelhantes às que os soldados comem, e recebem treino básico em Krav Maga, uma técnica de auto-defesa desenvolvida pelas Forças Armadas de Israel que ganhou fama internacional. Um dos vídeos mostra um grupo de participantes chineses a rir, enquanto é levado por um falso terrorista árabe, depois resgatado por comandos israelitas, a disparar contra alvos, ou a ser castigado com flexões.

“Em duas horas não se consegue formar um profissional, mas damos aos visitantes alguma consciência do que quer dizer dar segurança à si próprio, à sua comunidade e à sua família”, disse Gat, da Caliber 3, desta vez à agência Reuters.

Tanto a reportagem da Reuters como a do Ha’aretz mostram que a empresa dá importância a mostrar como é necessário ter cuidado com os suspeitos nas operações de contra-terrorismo.

O exército de Israel tem sido acusado de força excessiva, por exemplo no relatório Trigger Happy da Amnistia Internacional (de 2014) são documentadas as mortes de quatro palestinianos que não eram uma ameaça iminente, e a organização diz mesmo que em 22 das 27 mortes palestinianas de 2013, as vítimas não pareciam representar uma ameaça directa e imediata para os soldados.

Na academia Caliber 3, o grupo de turistas avalia uma figura de um árabe ao telefone para decidir se deve ou não disparar contra ele. O homem é declarado inocente pelo instrutor, que acaba por dar uma lição sobre a importância da cautela.

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