AG2R e Kwiatkowski: a cara e a coroa da amarela de Froome

Quando falta disputar a última semana do Tour, os quatro primeiros da classificação geral têm menos de meio minuto de diferença entre si.

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Romain Bardet Reuters/BENOIT TESSIER

Pára a caravana, é tempo de balanço. Ao segundo dia de descanso, e com os quatro primeiros da geral separados apenas por 29 segundos, só há uma certeza: mais do que nunca, o reinado do tricampeão Chris Froome está sob ameaça. Este é o resumo de uma semana de emoções fortes, que deixou a luta pela amarela em aberto e que colocou estes nomes na ribalta.

Positivo

AG2R - Não tem os meios, nem os recursos e muito menos o orçamento milionário das outras pretendentes à amarela, mas a AG2R é, indiscutivelmente, a equipa mais combativa da 104.ª Volta a França. A formação de Romain Bardet tem sido a única a atacar a corrida a subir e, sobretudo, a descer, revelando um profundo conhecimento do percurso, estudado ao milímetro. Mestre da táctica, a equipa francesa até pode vir a pagar a audácia, mas para já pode alegrar-se com o triunfo do seu líder na 12.ª etapa e por ter atormentado Froome em mais do que uma ocasião.

Michal Kwiatkowski - É o escudeiro com que todos sonham e, na ausência de Geraint Thomas, tem sido ele o salva-vidas do camisola amarela. No início das subidas, lá está ele a comandar – e a dilacerar o pelotão, até estourar. Nas descidas, é na roda dele que o líder da Sky segue. O campeão mundial de 2014, especialista em clássicas e em provas de uma semana, superou o desgosto de ter sido excluído da guarda de honra de Froome no ano passado, readaptou-se às suas novas funções e tem sido o mais fervoroso trabalhador do tricampeão, ao ponto de lhe ceder a roda traseira na etapa de domingo. A importância do polaco tem sido tanta que não há dia em que o camisola amarela não o destaque entre os demais companheiros.

Warren Barguil - É o homem do momento em França. Não é para menos: depois de inúmeras fugas e de perder um triunfo certo no photo finish, "Wawa" converteu o 13 no seu número da sorte (venceu em Foix, diante do seu ídolo Alberto Contador) e conquistou a camisola preferida dos franceses. Vestido de branco às bolinhas vermelhas, o francês da Sunweb calou os críticos que o taxavam de talento perdido. “O 'Wawa' não está morto”, disse por estes dias. E a julgar pela vantagem (78 pontos) que tem sobre Primoz Roglic, o segundo da classificação da montanha, é bem provável que seja ele a festejar em Paris.

Michael Matthews - Alguns comentadores mais distraídos já davam como certa a vitória de Marcel Kittel na classificação da regularidade. Mas o australiano da Sunweb tem outros planos: em apenas quatro etapas, aquelas em que não houve uma tradicional chegada ao sprint, "Bling" reduziu de 133 para 79 pontos a desvantagem para o alemão. Com o sistema de pontuação contra ele – a organização do Tour reformulou-o para entregar a camisola a um sprinter puro -, Matthews tem procurado (e conseguido) entrar nas fugas, amealhado pontos nos sprints intermédios e explorado a sua vertente de "puncheur" – como se viu quando ganhou a 14.ª etapa, em Rodez.

Thomas de Gendt - Se nunca o viu, é porque ainda não sintonizou a Volta a França no seu televisor. Quando não está a trabalhar na dianteira do pelotão para André Greipel, está lá na frente a lutar por etapas. O belga, um dos expoentes máximos do ciclismo de ataque, já é o corredor com mais quilómetros (são perto de 700) em fuga neste Tour e arrisca-se a subir ao pódio dos Campos Elísios como mais combativo desta edição.

Negativo

Mikel Landa - Não há dúvidas que, nesta altura, o basco é o candidato em melhores condições físicas, mas não é isso que está em causa. Quando trocou a Astana pela Sky, insatisfeito por viver na sombra de Fabio Aru, Landa sabia que a liderança do Tour nunca estaria reservada a ele e concordou com a premissa. Foi na condição de trabalhador que foi chamado a esta Volta a França e, goste ou não, é esse papel que tem de assumir, até porque está a ser pago a peso de ouro para cumprir ordens. Seriam, por isso, de evitar os olhares contrafeitos quando tem de puxar pelo camisola amarela e as declarações em que revela que gostaria de ganhar o Tour.

Movistar - Nem é só o colapso de Nairo Quintana que torna a equipa espanhola uma das grandes perdedoras desta edição, mas sim o desempenho desastroso de todos os seus elementos. O mau momento do seu líder e o abandono do plano B Alejandro Valverde logo na primeira etapa parecem ter afectado animicamente os corredores da melhor equipa do mundo. Andrey Amador anunciou no Twitter que iria abandonar a prova, para voltar atrás no dia seguinte. Alegadamente, Jonathan Castroviejo está a correr com uma costela partida. Que mais irá acontecer a esta Movistar?

Colégio de comissários - Os juízes decidiram extrapolar os regulamentos e expulsar Peter Sagan, mas, uns dias depois, fecharam os olhos a uma cotovelada do nacional Nacer Bouhanni. No final da 12.ª etapa, penalizaram Rigoberto Urán, entre outros, em 20 segundos por abastecimento irregular, mas não viram Romain Bardet receber uma garrafa de água precisamente no mesmo local (haveriam de alegar que o francês só recolheu a oferta e não a chegou a beber). A opção controversa levou a União Ciclista Internacional a intervir e cancelar a penalização. Voluntária ou involuntariamente, este colégio de comissários (e a sua visão que privilegia as cores nacionais) tem sido protagonista pelos piores motivos.

Louis Meintjes - Pela primeira vez, o sul-africano assumiu a liderança solitária da sua equipa no Tour. Candidato à camisola branca que premeia o melhor jovem, Meintjes tem defraudado. Se teimar em limitar-se a andar na roda, o ciclista da UAE Team Emirates nunca chegará a Simon Yates, que tem uma vantagem superior a três minutos.

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