Facebook: dois mil milhões de utilizadores e só quatro tipos de pessoas?

Estudo divide jovens adultos norte-americanos que usam a rede social entre “construtores de relações”, “observadores”, “pregoeiros” e “selfies”. Falta saber se a categorização é extensível a toda a comunidade.

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É comum os utilizadores reconhecerem em si características de mais do que uma categoria Mike Blake/Reuters

Chegará o tempo em que a literatura fará subir as redes sociais à ficção e nos porá diante dos olhos, melhor do que qualquer artigo científico, variações sobre personagens arquetípicas de lugares esféricos, sem fim, como o Facebook. Chegará o tempo em que intuiremos cada dobra de personalidade, cada sobreposição, cada dificuldade do mundo que vive inclinado para a frente, sobre o smartphone – uma estória de cada vez. Para já, temos de nos contentar com o que academia vai descobrindo sobre o que somos, o que fazemos e como nos comportamos online.

Uma equipa de três investigadores da Universidade Brigham Young – a maior instituição de ensino superior com afiliação religiosa (mórmon) nos EUA – estudou a conduta dos jovens adultos norte-americanos no Facebook e chegou à conclusão de que este grupo de utilizadores se pode dividir em apenas quatro categorias: “construtores de relações”, “observadores”, “pregoeiros” e “selfies”.

Apesar de o estudo se aplicar a uma fatia significativa da população norte-americana (cerca de 60 milhões de pessoas) não pode ser extrapolado para a vastíssima massa humana que acede mensalmente ao Facebook: dois mil milhões de utilizadores. Seja por pertencerem a outros grupos etários, seja porque integram um contexto social e cultural diferente – afinal, trata-se de uma plataforma global –, esses milhares de milhões podem abrir portas a novas categorias.

Os investigadores pediram a 47 utilizadores que respondessem a um questionário, no qual tinham de avaliar numa escala qualitativa um conjunto de frases como “O Facebook é uma fonte de stress”. “Mais parecido comigo?” “Menos parecido comigo?” As justificações vieram depois: os participantes foram entrevistados e puderam clarificar as respostas. O que pode ser visto como uma debilidade é a reduzida amostra do estudo, mas os investigadores dizem que a metodologia Q, usada em ciência sociais para analisar dados subjectivos, garante fiabilidade.

A primeira categoria identificada foi baptizada de “construtores de relações”. São os que usam o Facebook sobretudo para interagir, para se manterem em contacto com a família e alimentar ou criar amizades. É como se a comunidade na rede fosse uma “extensão das suas vidas reais”, diz Tom Robinson, o autor principal, citado pelo site da universidade. Quase do lado oposto estão os “observadores” (uma tradução literal chamá-los-ia de “compradores de montra”), que consultam o Facebook mais por um sentido de obrigação social do que por vontade própria, ou então para se manterem informados (o que inclui coscuvilhice e suspiros amorosos).

Também em campos aparentemente inversos estão as categorias “pregoeiros” e “selfies”. Os primeiros estão preocupados com o mundo, são politicamente engajados e encontram no Facebook um meio fácil para espalhar mensagens, promover eventos e disseminar informação (verdadeira e falsa). Os “selfies” estão mais preocupados com o próprio umbigo, procuram atenção e a aprovação dos pares (contabilizada em número de “gostos”). Este é o tipo de utilizador que menos se preocupa com a forma rigorosa com que se apresentam online.

Os autores notam que a maior parte das pessoas se identifica, pelo menos em parte, com o comportamento associado à categoria “selfies”. É, de resto, comum reunir características de mais do que um tipo. Mas, sublinham os investigadores, a tendência é que se identifiquem sobretudo com um deles. A literatura entrará aqui, para explicar onde, nesta mole de gente, estão heróis e vilões, sedutores e guerreiros, sábios e comuns.

A rubrica Tecnologia encontra-se publicada no P2, caderno de Domingo do PÚBLICO

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