Lugares no primeiro escalão à venda na África do Sul

Falhado o objectivo da subida de divisão, o AmaZulu FC resolveu o problema comprando o primeiro classificado

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O AmaZulu FC ficou em quinto lugar mas subiu de divisão na mesma DR

Trabalhar uma época inteira e depois morrer na praia? Disputar uma competição secundária pode revelar-se bastante frustrante para quem luta pela subida de divisão e falha o objectivo por muito pouco. Após ficar a meros dois pontos dos lugares que davam acesso ao play-off de subida, um emblema na África do Sul arranjou uma solução original para esse problema: simplesmente comprou o clube que tinha terminado no primeiro lugar, garantindo assim a correspondente vaga no principal escalão.

Quem tivesse acompanhado de perto a época do AmaZulu FC ia ficar confuso ao chegar ao site oficial e ler: “AmaZulu FC de regresso ao primeiro escalão”. O emblema verde foi quinto classificado na segunda divisão, a 15 pontos do primeiro lugar (o único com subida directa) e a dois pontos do terceiro, que tal como o segundo posto dá acesso a um play-off. Mas não era engano, o AmaZulu FC vai mesmo disputar o principal escalão em 2017-18. Já não é a primeira vez que o clube recorre ao músculo financeiro para comprar o que não tinha conseguido pela via desportiva. Aconteceu em 2006 e voltou a acontecer agora: depois de duas épocas consecutivas no segundo escalão, o emblema de Durban cansou-se de esperar. Adquiriu o controlo do Thanda Royal Zulu, que tinha ficado em primeiro lugar na II Divisão sul-africana, e vai ocupar o correspondente lugar entre a elite.

O Thanda Royal Zulu, de Richards Bay (a mais de 170 quilómetros de Durban) deixa de existir, e no seu lugar o AmaZulu FC segue para o primeiro escalão. A metamorfose foi aprovada pela Liga sul-africana, apesar da polémica. “Corremos o risco de ter todos os clubes do primeiro escalão concentrados numa região do país, em vez de termos equipas espalhadas por todo o país”, lamentou Danny Jordaan, presidente da Federação sul-africana de futebol, acrescentando: “É um facto que comprar e vender clubes faz parte do jogo global e dos tempos económicos que vivemos. Basta olharmos para clubes como o Paris Saing-Germain, Chelsea ou Manchester City. Mas nenhum deles mudou de cidade ou de nome.”

As dificuldades financeiras que o Thanda Royal Zulu atravessa ajudaram a facilitar o negócio com o AmaZulu FC. A revista Soccer Laduma adiantava que o preço a pagar pela vaga no primeiro escalão foi de 60 milhões de rands (quatro milhões de euros). Tendo em conta a saúde financeira da generalidade dos clubes sul-africanos, até pode ter sido bom negócio. “Sei do que falo porque tive essa experiência em primeira mão. Quase 90% dos clubes estão em bancarrota. O futebol é óptimo para gerar contactos e visibilidade. Visto ao longe, é tudo muito bonito. Mas quando se chega perto percebe-se que não é o que se esperava. Esta foi a minha experiência no futebol”, afirmou Pat Malabela, responsável pela venda do Dynamos ao AmaZulu FC, em 2006.

“Se surgir uma boa oferta, pega no dinheiro e não olhes para trás. Eu estava falido quando vendi o meu clube. Nem hesitei. Era uma saída fácil, caso contrário ter-me-ia afogado em dívidas”, acrescentou Malabela. Na altura, o valor pago pelo AmaZulu FC terá rondado os 41 milhões de rands (mais de 2,7 milhões de euros, ao câmbio actual).

Em Richards Bay, cuja autarquia tinha investido na renovação e iluminação artificial do estádio do Thanda Royal Zulu, a notícia não foi bem recebida. Mas pelo menos os adeptos não vão ficar sem equipa de futebol: no lugar da equipa comprada pelo AmaZulu FC surgiu o Richards Bay FC, que voltará a tentar a subida ao principal escalão. Desde que no final da época não volte a aparecer alguém apressado e com dinheiro.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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