Histórias do Tour: Matthias Frank, um líder que preferiu ser gregário

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Durante três épocas, Mathias Frank liderou a IAM Cycling. Qualquer outro corredor, perante o anúncio da extinção da formação profissional continental e sem um currículo que lhe permitisse ombrear com os ‘tubarões’ das equipas do WorldTour, e assim, garantir um contrato como chefe de fila, teria desesperado. Mas o suíço não. Porque, para si, o fim da equipa nacional foi um alívio.

“Na IAM, tive a oportunidade de descobrir aquilo de que sou capaz como ciclista, mas depois percebi que, por vezes, tinha dificuldade em lidar com a pressão. É duro reconhecê-lo. É-me difícil prever o meu estado de forma. Há tipos que conseguem planear os picos na perfeição. Para mim, é mais o feeling, se surge ou não. Assim, é difícil ser líder, porque, em alguns momentos, tens mesmo de sair-te bem”.

Após três temporadas a lidar com os próprios limites, chegou o momento de Frank assumir que o fato de gregário era o que melhor lhe convinha. Os holofotes não eram para si – embora aquele oitavo lugar no Tour 2015 e o segundo na Volta à Suíça de 2014 possam ter indiciado o contrário. Era na sombra do pelotão, onde construiu a sua reputação como trabalhador incansável de Tejay Van Garderen (BMC), entre 2009 e 2013, e de onde saiu esporadicamente para vencer etapas na Volta à Áustria (duas, em 2013), na Volta ao Colorado (2013), no Critério Internacional (2014) ou na Volta à Baviera (2014), que se sentia bem.

Foi já sem a pressão de ter algo a provar que alinhou na Vuelta 2016. “Foi simplesmente uma corrida divertida. Não tinha nada a perder. Diverti-me imenso, muito mais do que em muito tempo”. Tanto que ganhou uma etapa, a 17.ª, e recebeu uma proposta da AG2R, para se tornar num escudeiro de Romain Bardet, o segundo classificado do Tour 2016. O corredor de Roggliswil, então com 29 anos, nem hesitou.  “Estou a dar um passo atrás na minha carreira, mas este era o papel que procurava: o de trabalhador, que terá oportunidades em corridas menores”, confessou ao CyclingNews no primeiro estágio com a equipa francesa.

Contratado para escoltar Bardet nesta Volta a França, Frank tem correspondido à missão, numa AGR2 prolífera em movimentações táticas, executadas com audácia e assertividade. “Ele é um enorme talento, um dos maiores que vi nos últimos anos”, diz sobre o jovem francês. Embrenhado no seu novo papel, o suíço não podia estar mais feliz. “Ainda tenho a chama cá dentro, ainda quero descobrir quem sou, aquilo de que sou capaz como ciclista. Mas sem a pressão”.

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