Histórias do Tour: a irritante alergia de Tim Wellens

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LUSA/YOAN VALAT

Tim Wellens é um daqueles ciclistas que todos adoram. Destemido, dedicado, espectacular. O seu espírito atacante tem-lhe valido não só comparações com os grandes combativos da modalidade, como Alejandro Valverde, mas também um currículo invejável, que inclui uma vitória de etapa no Giro 2016, a dupla conquista da geral (e duas etapas) do EnecoTour (2014 e 2015), o Grande Prémio de Montreal (2015), uma etapa no Paris-Nice (2016), outra na Volta à Polónia, assim como a classificação final da prova (2016), dois troféus no arranque desta temporada, em Maiorca, e ainda uma etapa na Volta à Andaluzia. Tudo isto, com apenas 26 anos e cinco épocas como profissional.

Mas, a cada mês de Julho, o valente belga eclipsa-se. Naquela que é a grande montra do ciclismo mundial, a mais apetecida de todas as corridas, o sempre-em-fuga Wellens não dá um ar da sua graça. Foi assim na sua estreia em 2015 (acusou uma sobrecarga de treino em altitude), tem sido assim nesta edição. Não sabemos se está intimamente relacionado, mas atrevemo-nos a sugerir que, face ao insuportável calor sentido nos últimos dias por paragens francesas, a alergia do ciclista da Lotto Soudal poderá, muito bem, ter tido uma palavra a dizer.

“Há uns meses, o Tim contou-nos que tinha problemas com o calor”, revelou o médico da equipa belga ao jornal local L’Avenir. Servaas Bingé e restante staff não tinham por que duvidar da palavra do corredor que conheciam desde sempre – mais precisamente, desde o meio da temporada de 2012, quando o antigo campeão júnior belga de cross-country (2008) ascendeu da filial de formação da Lotto Soudal à equipa A. “Levámos a sua queixa muito a sério e descobrimos que ele tem alergia ao sol”. Aquelas inexplicáveis manchas vermelhas, espalhadas pelo corpo, a sensação de fraqueza tinham agora uma explicação. Pior era impossível: numa modalidade altamente exposta às condições atmosféricas, este é um handicap difícil de contornar.

“Na primeira etapa da Volta à Suíça, fiquei com as pernas pejadas de manchas vermelhas. A partir desse momento, senti que não tinha força nas pernas. Mas isso só acontece quando está realmente muito calor”. Wellens desdramatiza, explica que o impacto da alergia não se faz sentir na vida quotidiana. “Por exemplo, quando vou à praia, não tenho problemas com o sol e o calor. É unicamente quando realizo um esforço violento”. Mas não nega que a praga de manchas é “bastante chata”.

“O calor e o sol são factores que não podemos controlar e é precisamente isso que me irrita”. Para atenuar os efeitos, o belga toma três medicamentos e, no último Inverno, tornou-se frequentador assíduo da sauna, para habituar o corpo ao calor. Com o desejo de ganhar uma etapa em mente - “Sei que não será fácil, mas já estudei a fundo o roadbook” -, Wellens espera agora que o sol dê uma trégua para levar a bom porto a sua empreitada. 

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