O gato Zezinho

Oferece todas as modalidades felinas, desde aparições surpreendentes até escaladas de portas de garagem.

O gato Zezinho é esguio e todo preto, um adolescente e um vadio. É um grande cumprimentador, da escola das marradinhas. Chama-se por ele “Zezinho! Zezinho!” e ele regista imediatamente. É como tirar uma senha na farmácia. Termina a série de cumprimentos em que se empenhou, apressando-se visivelmente mais por uma questão de aparência do que de cortesia, e dirige-se a nós com um propósito que não seria descabido num tubarão.

As marradinhas do Zezinho são dadas de levante, como é hábito no Algarve, vindo do Leste e subindo até às mãos do freguês. É como se a cabeça dele estivesse a ensinar os nossos dedos a cumprimentar gatos. E ensina.

O Zezinho foi adoptado pela Lívia num meio-dia na Casa Viana, em Cabanas de Tavira. Saltou-lhe para o colo, onde prontamente adormeceu, acordando apenas às nove da noite para jantar, tomar banho e pôr-se ao fresco.

Como gato é extremista, alternando com facilidade entre a pasmaceira e o frenesim, sem perder tempo com estados intermédios, por definição inferiores. Oferece todas as modalidades felinas, desde aparições surpreendentes até escaladas de portas de garagem.

Faz calçada com o mesmo desplante e requinte com que faz telha. Todas as superfícies do mundo são amadas por ele, até aterrar nelas. Apaixona-se instantaneamente pela superfície seguinte, sempre noutra altura e noutro plano qualquer, como se fosse capaz de mudar de dimensão ou de dar saltos no tempo, para o tempo em que o Zezinho era ainda mais principesco — que é um tempo que, claro está, não existe.  

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