China envia soldados para a sua primeira base militar no estrangeiro

Base no Djibuti é a primeira presença militar permanente chinesa no mundo em seis décadas. Pequim diz tratar-se apenas de uma instalação de cariz logístico.

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EPA/JEROME FAVRE

A China começou a enviar esta quarta-feira os primeiros soldados para o Djibuti, no Corno de África, para iniciar a instalação daquela que será a primeira base militar chinesa permanente no estrangeiro desde o final da Guerra da Coreia.

A construção da base foi anunciada no ano passado pelo Governo de Pequim, depois de meses de especulação. A decisão é vista como um dos mais relevantes passos dados pelo Presidente, Xi Jinping, no seu objectivo de intensificar o papel da China como uma superpotência geopolítica – depois do ter atingido esse estatuto na economia. A política externa tradicional chinesa nas últimas décadas privilegiava a “não-intervenção” nos assuntos internos de outros Estados.

Nos últimos anos, no entanto, a China tem assumido uma maior centralidade em áreas que anteriormente ignorava. Desde 2008 que a Marinha chinesa participa em missões anti-pirataria no Golfo de Adem, por exemplo, e mais recentemente tem realizado manobras conjuntas com a Rússia no Mar Mediterrâneo.

Porém, o Governo chinês tem desvalorizado a construção da base no Djibuti, dizendo que será sobretudo uma instalação com fins logísticos para servir como apoio a missões anti-pirataria e para assegurar a segurança do trabalho humanitário na região, de acordo com a agência estatal Nova China. O “objectivo fundamental do desenvolvimento do poder militar chinês é garantir a ‘segurança da China’, e não se trata de procurar controlar o mundo”, defendeu, num editorial, o site de notícias Global Times, próximo do Partido Comunista Chinês.

Não foram dadas informações acerca do número de soldados do Exército de Libertação do Povo que zarparam do porto de Zhanjiang, no Sul da China, nem sobre a data provável de início das actividades na base africana, cujo aluguer irá custar 20 milhões de dólares (17,5 milhões de euros) por ano, segundo a Economist.

Apesar da sua reduzida dimensão, o Djibuti (com cerca de 800 mil habitantes e com uma área inferior à do Alentejo) ocupa uma posição de grande importância estratégica. Para além da base chinesa, também os EUA, a França e o Japão dispõem de instalações militares no país, onde também há presença regular de missões anti-pirataria da União Europeia. A sua relativa estabilidade política – apesar de o Presidente, Ismail Omar Guelleh, permanecer no poder desde 1999 e ter esmagado protestos da oposição em 2011 – é vista como um oásis numa região assolada pelo terrorismo e pela pirataria.

À medida que se consolida como uma superpotência económica, a China tem adoptado igualmente um papel mais central na geopolítica mundial. A intervenção externa é um tabu em Pequim, que prefere abordagens mais pragmáticas. Mas esse paradigma parece estar a mudar. “Pequim tem seguido um caminho intermédio, mantendo o princípio geral de não-interferência enquanto estica a sua interpretação e testa várias formas de o aplicar”, conclui um relatório recente do International Crisis Group, centrado no papel da China no conflito no Sudão do Sul, onde há 750 “capacetes azuis” chineses integrados na missão da ONU.

Ao contrário de intervenções tradicionais, como as dos EUA no Médio Oriente, a China parece não ter o objectivo de “exportar” modelos políticos, mas sim proteger os seus interesses nos países em questão, observam os autores do estudo. África parece ser um dos palcos onde esta face da política externa chinesa mais se faz sentir, uma vez que os interesses económicos das multinacionais estatais se multiplicam todos os anos. Em 2015, o Presidente chinês prometeu investimentos no valor de 60 mil milhões de dólares em infraestruturas no continente africano, sobretudo na área dos transportes e energia.

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