Contratos swap do Santander Totta mais danosos têm juros acima de 100%

O acordo entre o Estado e o banco foi assinado a 12 de Abril.

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O acordo encerra os litígios judiciais relativos a contratos de swap de cobertura de taxa de juro Margarida Basto

O secretário de Estado das Finanças disse esta quarta-feira que há três contratos de swap feitos entre empresas públicas e o Santander Totta, que o Estado acordou cumprir, com juros acima de 100%, considerando que ninguém saudável acha essas taxas normais. "Em relação a taxas de hoje e aos swap mais danosos, há um com [taxa de] 112%, outro de 106% e outro 103%", afirmou Mourinho Félix numa audição da comissão parlamentar de orçamento e finanças.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, e o secretário de Estado, Mourinho Félix, estão hoje no parlamento para darem explicações sobre vários temas, entre eles o acordo feito este ano entre o Estado português e o Banco Santander Totta que encerra os litígios judiciais relativos a contratos de swap de cobertura de taxa de juro celebrados com empresas públicas de transportes e que o Governo anterior (PSD/CDS-PP) considerou que não deveriam ser cumpridos.

O acordo prevê que o Estado assegure o cumprimento dos contratos, após sentenças nos tribunais de Londres que os consideraram válidos, enquanto o Santander concede, em contrapartida, um empréstimo de longo prazo à República Portuguesa.

Na audição parlamentar, o deputado do PCP Paulo Sá questionou Mourinho Félix sobre se considera inadequados os níveis de juros dos três contratos referidos, tendo o secretário de Estado afirmado que isso é apenas "um teste de sanidade mental". Ainda segundo o governante, os contratos decorrem até ao ano de 2027 e o pico dos pagamentos será em 2020.

Mourinho Félix voltou ainda a reiterar as vantagens que o Governo já tinha evocado para considerar o acordo com o Santander Totta positivo, nomeadamente poupanças superiores a 400 milhões de euros em juros de mora e despesas com advogados do Santander Totta que teriam de ser pagos pelo Estado português com a perda do processo judicial. Além disso, afirmou, o empréstimo conseguido permitiu antecipar dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Neste caso, estão causa estão nove contratos de swap celebrados entre o Santander Totta e o Metropolitano de Lisboa, Carris, Metro do Porto e STCP, que, no início de 2013, seguindo orientações do Ministério das Finanças, as empresas públicas decidiram considerar inválidos, suspendendo os pagamentos previstos.

Em 12 de Abril deste ano, o Estado português e o Banco Santander Totta anunciaram ter chegado a um acordo que encerra os litígios judiciais relativos a contratos de swap de cobertura de taxa de juro celebrados com as empresas públicas de transportes.

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O acordo prevê que o Estado assegure o cumprimento pelas transportadoras públicas das "sentenças já proferidas pelo tribunal de Londres que reconhecem a validade dos referidos contratos e a conduta profissional do Banco Santander Totta" e que Portugal "desistirá do pedido de admissão de recurso pendente, mas ainda não aceite pelo Supremo Tribunal inglês".

Quanto ao Santander Totta, o acordo determina que o banco "desistirá da acção e pedido de indemnização contra o Estado e contra o IGCP [Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública] pendente nos tribunais portugueses e concederá, em contrapartida, um empréstimo de longo prazo à República Portuguesa que implicará uma poupança nos seus custos de financiamento".

Segundo a tutela, trata-se de um financiamento no montante total de 2,3 mil milhões de euros, por um prazo de 15 anos, a efectuar "em condições de taxa de juro mais favoráveis, permitindo uma poupança de juros a pagar pela República de 442 milhões de euros no prazo do empréstimo".

Um swap é um contrato de cobertura de risco que consiste em fixar uma taxa de juro de um empréstimo com a obrigação de uma das partes pagar a diferença entre a taxa fixa e taxa que varia de acordo com os juros de referência.

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