May estende a mão à oposição expondo ainda mais a sua debilidade

Corbyn responde que "terá todo o gosto" em entregar a May cópia do programa eleitoral trabalhista, mas diz que prefere eleições antecipadas.

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Jason Alden/Reuters

No momento mais frágil da sua liderança, e a dias de entregar no Parlamento a peça central da legislação que enquadrará a saída do Reino Unido da União Europeia, a primeira-ministra Theresa May desafiou a oposição a apresentar propostas e contribuir para um consenso – sobre o “Brexit” e não só. Para Downing Street, trata-se de um sinal de pragmatismo, depois de os conservadores terem perdido a maioria, mas o gesto foi visto, dentro e fora do partido, como mais um sinal da sua debilidade.

Numa primeira resposta ao “ramo de oliveira”, que a primeira-ministra irá estender num discurso que agendou para esta terça-feira, o líder da oposição, Jeremy Corbyn disse que se o “Governo está sem ideias” ele terá “muito gosto em entregar a May uma cópia do programa eleitoral do Labour”. “Ou melhor ainda, podia convocar eleições antecipadas para deixar os eleitores decidir” quem deve governar.

A abertura foi também mal recebida entre os conservadores, receosos que o diálogo leve a uma diluição dos planos do Governo para o “Brexit”. “Corbyn não tem nada a oferecer, além de querer gastar o dinheiro dos outros”, escreveu no Twitter Brandon Lewis, secretário de Estado para a Imigração. “As pessoas não votaram a favor de uma coligação entre tories e Labour”, disse outra fonte citada pelo jornal Telegraph, que admitiu que o gesto de May pode “acelerar a sua queda”.

O fim-de-semana foi rico em rumores sobre manobras de bastidores para destronar a primeira-ministra, incluindo o relato de um jantar entre deputados em que um amigo de David Davis, o ministro para o “Brexit”, terá dito que May “perdeu toda a sua autoridade” e o partido precisa com urgência “de um novo líder”. Já esta segunda-feira, George Osborne, o ex-ministro das Finanças que May demitiu e é agora director do Evening Standard, escreveu que Davis seria o mais indicado para a substituir e deve decidir o quanto antes se vai pedir uma eleição interna.

O gesto de conciliação chega dias antes da publicação, na quinta-feira, da “Repeal Bill”, a proposta para anular a primazia da lei europeia sobre o ordenamento jurídico britânico, transpondo em simultâneo milhares de directivas e regulamentos em vigor para a legislação nacional. Quer a oposição, quer a ala mais pró-europeia dos tories, já prometeram apresentar várias propostas de alteração ao diploma, o que obrigará a primeira-ministra a fazer as cedências que queria evitar quando, em Abril, convocou eleições antecipadas convicta que iria aumentar a sua maioria, 

“A realidade que enfrento agora enquanto primeira-ministra é diferente”, reconhece May, segundo extractos do discurso divulgados antecipadamente pelo seu gabinete, apesar de garantir que o "seu empenho não mudou" e as suas prioridades continuam as mesmas.

Mas de todos os lados continuam a chegar desafios. Guy Verhofstadt, coordenador do Parlamento Europeu para o “Brexit”, publicou uma carta, co-assinada por eurodeputados das principais bancadas, em que classifica de “pólvora molhada” a proposta britânica sobre os direitos dos cidadãos europeus que residem no Reino Unido, avisando que a instituição pode vetar o acordo final do “Brexit”. E no Parlamento britânico deputados conservadores avisaram ontem que vão juntar-se à oposição para travar a saída da Euroatom, temendo as consequências imprevisíveis de uma retirada precipitada da organização que regula a investigação e uso da energia nuclear na Europa.

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