O Arco do Cego "não é nenhum condomínio privado"
A directora municipal da Mobilidade e Transportes defende as obras realizadas pela câmara e contraria as preocupações de alguns moradores do bairro, que se queixam de ter perdido qualidade de vida.
A responsável pela gestão do trânsito de Lisboa afirma que as obras que a câmara municipal realizou no Arco do Cego vão contribuir para melhorar a mobilidade e a vida no bairro, mas admite que os seus efeitos demorem a sentir-se totalmente.
Nas últimas semanas, o resultado dessas obras tem motivado muitas críticas de um conjunto de moradores, que numa recente reunião com técnicos acusaram a autarquia de ter piorado a qualidade de vida no Arco do Cego.
Depois dessa reunião, em que os residentes se exaltaram com o arquitecto que desenhou o projecto de obras, a directora municipal de Mobilidade e Transportes sai em defesa da intervenção e contraria as opiniões dos moradores. Numa visita ao bairro, Fátima Madureira diz ao PÚBLICO que uma das principais queixas de quem ali vive – a circulação de carros a alta velocidade em algumas ruas – não tem razão de ser. E afirma também que, contrariamente ao que as pessoas do bairro têm dito, elas foram consultadas antes e durante as obras.
“Nós temos registo de éne participações de moradores do bairro” feitas ao longo de anos, explica Fátima Madureira. Foi para responder a essas queixas, assegura, que a câmara interveio no âmbito do Programa Pavimentar Lisboa. “Não podemos é agradar a toda a gente”, comenta.
A obra acabou por ir além da “repavimentação das faixas de rodagem e passeios” e da “melhoria da acessibilidade pedonal” de que fala o site da câmara. “Isto estava num estado lamentável. Não fazia sentido pavimentar sem intervir mais profundamente nas infra-estruturas”, considera a responsável. Um dos exemplos que aponta é relativo ao escoamento de água, que teve de ser reformulado depois de os moradores e o próprio Fernando Medina terem criticado uma opção inicial do projecto que poderia ter provocado inundações e infiltrações.
Mas, além disso, o bairro passou a ser uma “zona de coexistência”, diz Fátima Madureira. Trata-se, de acordo com o Código da Estrada, de uma “zona da via pública especialmente concebida para utilização partilhada por peões e veículos, onde vigoram regras especiais de trânsito”. É pelo facto de ser uma novidade em Lisboa, acredita a directora municipal, que surgem as críticas e anseios da população. “É um caminho que temos de percorrer.”
O que os residentes queriam era tê-lo percorrido lado a lado com a câmara, o que, garantem, não aconteceu. Fátima Madureira desmente. “Fizemos uma visita ao bairro em que quase todos os moradores participaram”, afirma, referindo que houve ainda duas reuniões descentralizadas em que o assunto foi debatido, bem como uma visita acompanhada pelo presidente da câmara. “As sugestões foram sendo vertidas para o projecto”, diz.
Entretanto, já depois de acabadas as obras, a autarquia fez várias alterações viárias, criou estacionamento específico para os pais deixarem os filhos nas três escolas existentes no bairro, pintou passadeiras que não estavam previstas e pintou riscas amarelas, vermelhas e verdes em algumas ruas. Mais mudanças que irritaram uma parte dos habitantes, que ora eram surpreendidos por nova sinalética, ora não percebiam para que serviam as riscas. Fátima Madureira diz compreender as preocupações, mas, acrescenta, elas acabarão por diminuir com o tempo e o hábito. O grande objectivo da autarquia, sublinha, é reduzir a preponderância do automóvel neste e noutros locais da cidade.
O que, para já, não tem acontecido no Arco do Cego. Sobretudo por causa das escolas que ali existem, todos os dias frequentadas por milhares de alunos. A directora municipal de Mobilidade admite que esse é um dos motivos para o bairro ficar entupido de automóveis às horas de entrada e saída das aulas e até critica a falta de civismo dos muitos condutores que estacionam sobre os passeios e nas esquinas. Mas, vai dizendo, há coisas que não se podem mudar de repente. “Obviamente que há congestionamento na zona das escolas. Aqui e em qualquer escola de Lisboa”, comenta.
A dirigente acredita que a situação mudará quando o conceito de “zona de coexistência” estiver mais enraizado entre a população. Até lá, vai pedindo paciência. “Isto não é nenhum condomínio privado. O que é interessante neste bairro é precisamente a confluência” entre quem lá vive, quem frequenta as escolas, o hotel próximo e a Igreja de São João de Deus, defende. Cada um com a sua dinâmica.