A noite foi da geração xx no Nos Alive

Enchente no festival, com as inevitáveis filas ordeiras à entrada e à saída, numa noite em que a simbiose entre público e palco foi mais nítida com os The xx, embora The Weeknd, Phoenix, Alt-J, Royal Blood ou Bonobo também tenham sido bem recebidos. Esta sexta-feira, atenções nos Foo Fighters.

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The xx Miguel Manso
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Foi uma noite semelhante a outras no Nos Alive. A entrada e a saída fizeram-se com a habitual lentidão, mas de forma ordenada. A segurança mostrou-se, mas foi discreta. No interior do recinto respirou-se, mas sente-se que as 55 mil pessoas que lotaram o Passeio Marítimo de Algés testam os limites do espaço ao longo da noite. Nas zonas dos patrocinadores, os famosos tiram fotos uns aos outros para aparecerem nas redes sociais.

Viram-se muitos estrangeiros – 22 mil, segundo a organização – mas parecem agora mais diluídos na multidão do que em anos anteriores, embora os ingleses se façam notar sempre que tocam bandas da sua eleição. E claro fez-se ouvir música. Os The xx foram os que mais provocaram simbiose com a multidão, mas The Weeknd, Phoenix, Alt-J, Royal Blood ou Bonobo também não se podem queixar da recepção.

O álbum de estreia dos ingleses The xx, editado em 2009, marcou os últimos anos da cultura popular de forma categórica. É difícil imaginar outro disco que tenha gerado um culto tão oportuno, com pop hipersensível, espaçosa e monocromática, apostando, em anos de crise, no minimalismo em vez do maximalismo. Oito anos, e mais dois álbuns depois, os The xx são um surpreendente caso de sucesso, conseguindo arrastar atrás de si imensos admiradores que foram crescendo com eles, uma espécie de “geração xx” que, depois dos anos de introversão, parece agora respirar melhor – como nos recordava Romy Madley-Croft numa entrevista – com uma atitude e uma música mais expansivas.

Isso mesmo lembrou o cantor e baixista Oliver Sim, quando pediu que as luzes incidissem sobre a multidão, e se lhe dirigiu para afirmar que gosta muito de festivais, porque são uma forma de as pessoas se esquecerem dos seus problemas, nem que seja por algumas horas. Há uns anos talvez não fosse expectável ouvi-los dizer algo semelhante. Agora não. Os The xx querem recriar-se e isso nota-se em palco, com Romy, Oliver e Jamie xx bem mais soltos do que nos concertos anteriores que lhes vimos em Portugal (Aula Magna e Alive em 2010, Optimus Primavera Sound em 2012 e no festival Night + Day, que os próprios organizaram junto à Torre de Belém de Lisboa em 2013).

Claro que ao longo destes anos também foram perdendo apreciadores, com o seu último álbum a gerar visões diversas. Nada de mais. Faz parte do crescimento. Estamos com os que os respeitam. Olhando em redor não se vislumbra outro grupo capaz de gerar comunicação com uma multidão através de canções que expõem, em doses iguais, melancolia e exuberância, contemplação e dança, rigor e sensualidade.

Poderiam ter tido a tentação de crescer para os lados, apostando em espectáculos cenograficamente grandiosos, ou adicionar mais alguns músicos, mas não. Mantêm-se fiéis ao modelo inicial, com a simplicidade, o preto e branco e um posicionamento em palco que passa pela cumplicidade da guitarra e da voz de Romy e pela voz e pelo baixo de Oliver e, cada vez mais, pelas programações, pelos teclados e pelas percussões digitalizadas de Jamie. O resto é com as canções. E o público reconhece-as. Às vezes basta uma linha de baixo, uma guitarra serpenteante ou duas vozes em movimentos circulares e de imediato a assistência reage.

Canções assim, descarnadas, podiam ser destituídas de emoção. Mas não. Logo na abertura, com Intro, percebe-se que as recriações são soltas e com mais balanço rítmico do que o habitual. Isso mesmo é perceptível em The shelter, com Jamie a dar-lhe uma dimensão mais dançante, ou em Infinity e Loud places (original de Jamie), com Romy a arriscar uns passos de dança. O que não significa que não existam canções introspectivas como Performance ou Brave of you, com a guitarra transparente e a voz de Romy em evidência. Alguns dos melhores momentos são dados pelos temas do mais recente álbum, como Say something loving, I dare you ou On hold, embora os mais celebrados sejam os que toda a gente sabe de cor, como Islands ou VCR.

Pelo meio dos temas há juras de devoção por Lisboa e, tal como na música, nada parece excessivo. “Obrigado por todo o amor que sempre nos deram”, disse às tantas Romy na direcção do público, para no final partilhar que queria dedicar o último tema, Angels, à noiva. “Amo-te”, disse ela, num último gesto que parece ajustado a um concerto no qual conseguiram comunicar intimidade com a multidão.

Brilho mas pouco

O outro cabeça-de-cartaz da noite, o canadiano Abel Tesfaye, ou seja The Weeknd, provocou sensações mistas, fazendo um concerto esforçado que nem sempre conseguiu a adesão desejada. Há meses vimo-lo numa arena em Paris, em nome próprio, numa produção de grande espectacularidade, que esteve naturalmente ausente no Nos Alive, apesar das explosões de fogo e de outros efeitos que se viram ao longo da noite.

A entrada foi fulgurante com Starboy, tema-título do último álbum, mas, à medida que foi optando por introduzir baladas R&B como Reminder ou Six feet under, o espectáculo pareceu perder algum impacto, apesar dos constantes incitamentos, da magnífica voz em falsete e do acompanhamento imaculado dos músicos dispostos numa plataforma mais elevada em relação ao protagonista. A sensação de alguma letargia acabou por ser desvanecida na segunda metade, quando optou por introduzir os temas mais dançantes, de sensibilidade melódica, fazendo lembrar, a espaços, Michael Jackson, em In the night.

Em Rockin o espaço transforma-se mesmo numa imensa discoteca, com os ritmos house a estourarem em todas as direcções e Abel correndo pelo palco; quando chegamos a Secrets, a comunhão é total, dançando-se entre a assistência. O sucesso Can't feel my face, o tal que lhe deu um enorme impulso para se tornar numa celebridade global, é cantado em coro pela multidão, antes de entrar em cena o sabor funky de I feel it coming. O encore dá-se com The hills, fechando um concerto dinâmico, mas que não conseguiu ser uniforme. O brilho esteve presente, mas a espaços, num espectáculo acima de tudo, eficaz.

A armada britânica

Antes, já os franceses Phoenix, no mesmo palco principal, haviam dado um bom concerto. Ao longo de seis álbuns – o último é Ti Amo, deste ano –, sempre geraram divisões entre os melómanos e devoção entre o público mais desprendido com as coisas da música. A verdade é que mantêm a chama adolescente de sempre, criando com naturalidade desarmante canções pop-rock radiantes, de sensibilidade melódica e balanço físico. Quase todas as suas canções são manuais de produção requintada e execução virtuosa, embora o resultado final seja simples, com a dose exacta de acessibilidade pop e agitação roqueira. No final, o público rendeu-se-lhes, e eles fizeram tudo por merecê-lo.

Nos últimos anos, tendo em atenção a afluência de muitos britânicos, nota-se que no cartaz existem algumas bandas a pensar nessa circunstância. Claro que os Royal Blood são conhecidos em Portugal, mas nas primeiras filas havia muitos ingleses e foram eles a vibrar ainda mais com a purificação de rock & roll saída do palco. Uma sonoridade corpulenta, com alusões ao blues ou ao garage rock, marcada pelo som seco da bateria e pelos acordes distorcidos do baixo que fizeram estremecer os muitos que os ouviram, com as canções a sucederem-se umas às outras, imparáveis, graves e robustas, numa demonstração de adrenalina roqueira como já não se ouve e vê muito por aí.

Em contraste, o final do dia havia sido bem mais tranquilo. Os canadianos Rhye, que têm sido uma presença regular em Portugal desde que lançaram o álbum Woman (2015), mostraram a sua música voluptuosa, com a formação em palco a projectar uma pop de alusões jazzísticas, enquanto os ingleses Alt-J trataram de misturar as canções folk-rock sofisticadas do recente Relaxer (2017), com as mais conhecidas e imediatas dos dois primeiros álbuns (de MatildaBreezeblocks), naquele que foi o primeiro concerto do dia a gerar verdadeiramente algum entusiasmo.   

Já os resistentes à debandada depois de The Weeknd tiveram uma boa surpresa, com a estreia em Portugal (em formato live act) de Bonobo, o projecto desenvolvido pelo inglês Simon Green, que arrancaram um bom concerto, com os elementos electrónicos, o som dos graves, dos baixos e das percussões entrelaçando-se de forma muito dinâmica com os motivos exóticos que vão sendo introduzidos, com os músicos em palco, generosos, em total conexão com a assistência. Nitidamente o tipo de projecto a pedir um concerto em nome próprio numa sala.

Para o segundo dia de festival, esta sexta-feira, o grande destaque são os americanos Foo Fighters, de Dave Grohl, secundados por nomes como The Kills, Warpaint, Savages, Local Natives ou The Cult. O final é no sábado, com Depeche Mode ou Fleet Foxes.

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