Os opossuns são uma “peste” na Nova Zelândia. Dará isso direito a afogar as suas crias?

A caça destes marsupiais é considerada normal na Nova Zelândia, ao ponto de o Governo querer erradicar a espécie até 2050. O afogamento das crias de opossuns está a criar alguma polémica no país, ao temer-se que a banalização da morte dos animais anestesie as crianças em temas como a violência.

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Um opossum dourado, fotografado na Austrália. Na Nova Zelândia, os opossuns tendem a ser cinzentos ou castanhos Tim Wimborne/REUTERS

Numa escola na cidade neozelandesa de Auckland, várias crias de opossuns – animais marsupiais que chegam a ter o tamanho de um gato – foram afogadas num balde de água, depois de terem sido retiradas das bolsas das suas progenitoras (que tinham sido mortas a tiro). Apesar de a caça aos opossuns ser recorrente, já que os animais são considerados uma “peste” no país, o episódio, que ocorreu na semana passada, está a gerar controvérsia, já que se acredita que a morte “desumana” destes animais pode levar a uma dessensibilização da violência, sobretudo entre os mais novos.

A activista Lynley Tulloch, que estava presente no evento de angariação de fundos onde se deu o caso, criou uma petição online – que conta já com quase dez mil assinaturas e tem como destinatária a ministra da Educação Nikki Kaye – em que pede que seja banida a caça a estes animais em escolas. É ainda relatado o caso em que, a 25 de Junho deste ano, “uma rapariga foi encarregada de tirar as crias da bolsa de uma fêmea opossum e afogá-las num balde de água”. Na petição é considerado “perturbador” que as “crianças, que estão ainda em processo de desenvolvimento”, façam parte destas práticas, considerando as caças “completamente inapropriadas” em contexto escolar.  

Existem também vídeos partilhados no Youtube, filmados durante a feira escolar, que mostram os animais mortos a serem empilhados e atirados, enquanto as crianças assistem.

Num comunicado emitido pela escola em questão, é referido que o evento é organizado por uma associação de pais e que os caçadores são obrigados a tirar quaisquer crias “de forma humana”, ainda que desta vez alguns caçadores “tenham falhado” neste critério, garantindo que não houve alunos envolvidos no processo. Ainda assim, a escola comprometeu-se a colaborar com a Sociedade para a Prevenção da Crueldade de Animais (SPCA) para “garantir que o bem-estar dos animais é garantido futuramente”.

“É verdadeiramente desumano, é chocante que as crianças estejam a testemunhar esta violência”, disse a presidente-executiva da associação de direitos dos animais Safe, Jasmijn de Boo, citada pelo jornal britânico Guardian. A activista receia que este tipo de violência praticado contra animais se possa alargar e manifestar também contra seres humanos.

Um animal vilipendiado

Num comunicado da mesma associação de direitos dos animais, é referido que a primatóloga e activista britânica Jane Goodall se manifestou sobre o assunto, considerando que o uso do termo “peste” para se referir aos opossuns pode ter efeitos nefastos, levando à dessensibilização da violência, sobretudo entre os mais novos. Também de Jasmijn de Boo acredita que o termo “peste” faz com que se esqueça que os opossuns são animais sencientes e que não merecem uma morte cruel.

Em 2016, o Governo neozelandês anunciou que queria livrar-se de espécies predadoras não nativas (como os opossuns e os ratos) até 2050, invocando como argumento o facto de estes animais matarem cerca de 25 milhões de animais nativos por ano, como as aves. Para além de comerem erva e fruta, os opossuns podem caçar insectos, minhocas, ratos e até galinhas.

Os opossuns, animais nocturnos inofensivos para os humanos, foram levados para a Nova Zelândia em 1837, para criar um comércio à base das suas peles. Estes mamíferos omnívoros vivem sobretudo na Oceânia e no continente americano (sendo o único marsupial que habita nos Estados Unidos da América).

Na Internet, é possível encontrar vários sites com indicações para se livrar da “peste” dos opossuns, que são considerados inconvenientes: comem a comida dos animais domésticos, mexem no lixo, e às vezes entram nas casas, podendo roer fios eléctricos e sujar a zona com fezes e urina. Uma das soluções mais aconselhadas passa por montar armadilhas para os animais, que depois serão levados para longe de casa, sendo também frequente recomendar a manutenção das casas de modo a impedir a entrada dos marsupiais – ainda assim, o tiro acaba por ser o método preferencial usado na caça dos opossuns.

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