Assobiar para o lado

Uma oportunidade perdida que pega numa figura transgressiva e a encaixa à força num convencionalíssimo filme biográfico.

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Tom of Finland abdica de lidar com a personagem que lhe dá nome
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Dizer que Tom of Finland é uma oportunidade perdida não é suficiente para explicar o modo como o filme do finlandês Dome Karukoski passa ao lado da importância de Touko Laaksonen, artista que tornou o erotismo fetichista hiper-masculinizado num elemento importante para a cultura LGBT e, mais latamente, para a arte e para a cultura pop.

Formatado de acordo com as regras mais convencionais do filme biográfico, Tom of Finland não “branqueia” realmente a personagem mas passa o filme a assobiar para o lado à espera de não ter de lidar com ela.

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Prefere ficar-se pelo retrato de uma Finlândia conservadora, fechada, escura, desconfiada na década de 1950, que é o mais interessante do filme, certo, mas para isso não era preciso ir buscar uma figura tão transgressiva nem querer explicá-la de um modo tão anódino.

Quem não sabe quem Tom of Finland foi não sai daqui muito mais informado; quem sabe não percebe porque é que Karukoski passa o filme em pezinhos de lã a passar ao lado do essencial, que é a pulsão libertária e o princípio do prazer que jorra dos desenhos. A competência técnica é o mínimo que se exigia, mas finlandês por finlandês antes O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Mäki, que é mil vezes mais filme, e mais de época, do que Tom of Finland

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