Boicote ao Qatar “vai continuar” e agravar-se

Os qataris querem dialogar mas recusam fazê-lo com base em exigências “inaceitáveis”. Doha não "compreende a gravidade da situação", diz bloco de países árabes.

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Os ministros da Arábia Saudita, dos Emirados, do Egipto e do Bahrein Khaled ElFiqi/EPA

Um mês depois de terem imposto ao Qatar um bloqueio draconiano, cortando relações com o pequeno país e encerrando as fronteiras que os unem, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egipto reafirmaram esta quarta-feira as acusações de “interferência constante nos [seus] assuntos internos” e avisam que preparam “novas medidas” punitivas. “O boicote político e económico vai continuar até que o Qatar mude as suas políticas”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Riad, Adel al-Jubeir.

“Novos passos contra o Qatar serão tomados no momento apropriado e estarão em linha com a lei internacional”, disse Jubeir. A Arábia Saudita tem sido o grande promotor do isolamento do Qatar, país aliado mas com uma política externa demasiado independente para o gosto da monarquia absoluta. O bloqueio tem ainda como alvos indirectos o Irão (que os sauditas vêem como o principal inimigo) e a Turquia – ambos têm relações próximas com o regime qatari. “Espero que a Turquia permaneça neutral” nesta disputa, disse ainda Jubeir na conferência de imprensa após o encontro que juntou os chefes da diplomacia dos quatro países árabes no Cairo.

Os responsáveis lamentaram que os qataris tenham “dado uma resposta negativa” às exigências apresentadas ao Qatar para pôr fim à crise, uma lista de 13 medidas que incluem fechar a televisão Al-Jazira, encerrar uma base militar turca no país, diminuir as relações com o Irão, cortar laços com a Irmandade Muçulmana e o Hamas ou pagar “indemnizações por perdas de vidas ou financeiras causadas pela política do Qatar nos últimos anos”. Comentando a alegada ausência de disponibilidade para mudar de políticas, o ministro egípcio, Sameh Shukri, diz que a resposta de Doha “reflecte o fracasso dos qataris em perceber a gravidade da situação”.

A expulsão ou suspensão do Qatar da aliança económica e política da região, o Conselho de Cooperação do Golfo, terá “de ser decidida pelo próprio conselho”, esclareceu por seu turno o ministro dos Negócios Estrangeiros do Bahrein, Khalid bin Ahmed al-Khalifa.

Toda a gente, do emir do Qatar aos dirigentes dos Estados Unidos (país que tem a sua maior base militar da região precisamente no Qatar) ou da Alemanha, descreveu esta lista como “inaceitável”. Doha disse desde o início que entendia a existência de “preocupações legítimas” por parte dos países da região mas que não ia debater sob cerco.

O bloqueio fronteiriço está a obrigar o país a gastar milhões para não deixar de receber bens essenciais (o Qatar importa 90% dos alimentos) – sem a possibilidade de receber mercadorias vindas por terra (a única fronteira terrestre é com os sauditas) ou dos cargueiros que saem dos portos dos Emirados, o preço dos importações por mar aumentou dez vezes nestas semanas, diz o Governo qatari.

O Qatar acredita que as acusações de apoio ao terrorismo “foram claramente pensadas para criar um sentimento anti-Qatar no Ocidente”, afirmou em Londres o ministro dos Negócios Estrangeiros de Doha, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani. “Se lermos nas entrelinhas o que os países que nos bloquearam exigiam era que desistíssemos da nossa soberania, algo que o Qatar nunca fará”, disse ainda, num debate no think tank Chatham House.

Enquanto não são anunciados novos passos na maior crise política regional em décadas, a imprensa de Riad e Abu Dhabi vai acompanhando a retórica dos seus dirigentes. “O Qatar caminha sozinho nos seus sonhos e ilusões, para longe dos seus irmãos do Golfo Árabe”, escreve em editorial o jornal Al-Ittihad, do Abu Dhabi. “Não compreendemos a intransigência do Qatar”, escreve-se no Al-Riyadh, diário saudita. Para o Al-Ittihad, “os cidadãos da região podem ter de se preparar psicologicamente para um Golfo sem o Qatar”.

 

 

 

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