Especialista Manuel Tão contra autocarros eléctricos no Ramal da Lousã

Manuel Tão vai nesta terça -feira ao Parlamento “desmistificar um documento” do Governo “a que impropriamente chamam estudo”.

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Há anos que as populações pedem a electrificação do ramal da Lousã em modo convencional ADRIANO MIRANDA

O professor universitário Manuel Tão questionou nesta segunda-feira o estudo do Governo que prevê introduzir um sistema de autocarro eléctrico, denominado “metrobus”, no Ramal da Lousã e na cidade de Coimbra.

“O documento é falacioso ao ignorar por completo a elasticidade da procura na Linha da Lousã, designadamente o efeito do investimento ferroviário na geração de novas viagens”, disse à agência Lusa o especialista em Transportes, doutorado pela Universidade de Leeds, no Reino Unido.

O porta-voz do Lousã pelo Ramal, Pedro Curvelo, informou que, “a convite deste movimento”, que preconiza a reposição do transporte ferroviário no Ramal da Lousã, Manuel Tão vai intervir na terça-feira, às 15h00, na Assembleia da República, em Lisboa, numa audição extraordinária de várias entidades promovida pela Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas.

A iniciativa da comissão, presidida pelo deputado do CDS Hélder Amaral, visa apreciar a proposta do Governo de intervenção no Ramal da Lousã e na área urbana de Coimbra, no âmbito do denominado Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), na sequência de um requerimento escrito do PCP, a que se juntaram pedidos orais do PSD e do Bloco de Esquerda.

Manuel Tão, que há 15 anos apoia tecnicamente cidadãos e autarcas que exigem o investimento do Estado na modernização e electrificação do Ramal da Lousã em modo convencional, disse que pretende “desmistificar um documento” do Governo “a que impropriamente chamam estudo”.

“O documento não fundamenta, em absoluto, uma alegada inadequação do modo ferroviário ‘pesado’ ou ‘outro’ para atender a um tráfego anual de um milhão de passageiros. E, igualmente, tão-pouco explica o porquê da redução deste fluxo a metade desde que foram suprimidos os transportes sobre carris e substituídos por autocarros”, afirma o especialista num estudo que elaborou a pedido do Lousã pelo Ramal e a que Lusa teve acesso.

Já o documento do Governo, concebido pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), com a colaboração da Infraestruturas de Portugal, “não refere qual a quota de mercado (repartição modal) à qual correspondia o fluxo de um milhão de passageiros anual, aquando do último ano de exploração ferrovia, entre transporte individual e serviços de substituição” na actual situação do Ramal da Lousã, encerrado em finais de 2009 para obras que visavam a instalação de um sistema de metro e que foram paradas algum tempo depois por razões financeiras.

Para Manuel Tão, o documento do LNEC, apresentado há um mês nos três municípios abrangidos pelo SMM, “é falacioso, ao apresentar como exemplo de material ferroviário ‘pesado’ as automotoras Allan, com 63 anos de serviço, e as UDD450, com 51 anos de serviço”.

“Os últimos veículos empregues no serviço comercial, até à suspensão, são exibidos como se ao longo de seis décadas de serviço não existissem na Europa e resto do mundo materiais circulantes modernos e de nova geração, quer a diesel, quer eléctricos multi-tensão, quer ainda híbridos (electro-diesel), oferecendo perfomances e custos de exploração que nada têm a ver com aquilo que é mostrado ao público, com má-fé e induzindo-o em erro”, defende.

Entre outras críticas, o especialista em Transportes afirma que o estudo encomendado pelo Governo “apresenta pressupostos de tal forma grosseiros que deixam perplexo quem quer que o tente analisar”.

“Um dos mais notórios é o simulacro de uma análise de custo-benefício, na base da qual se equipara um tempo de vida útil de um sistema de autocarros guiados ao de um modo ferroviário”, acentua.

Para a audição promovida pela comissão parlamentar de Economia, foram convocadas as câmaras da Lousã, Miranda do Corvo e Coimbra, o Movimento de Defesa do Ramal da Lousã, o Lousã pelo Ramal, o Movimento Cívico de Lousã e Miranda do Corvo e a Comissão de Utentes dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra.

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