Para ti, trintona

Bálsamos e mezinhas caseiras para apaziguar a alma e massajar o espírito. Para todas as que pensaram que aos 30 isto ia fiar fino — só que não

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Averie Woodard/Unsplash

Desta vez não te esquives. Aproveita a década para experimentar todos os sentimentos que puderes. Doce, amargo, azedo e salgado. Degusta a confeitaria de pessoas que a rambóia da vida te apresenta. Todas, sem excepção, te vão ensinar alguma coisa — nem que seja a perdoar.

Sê rara. Não te percas em modas e tendências. Caminha para ti. Vieste ao mundo única e original, porquê passar a vida a tentar ser como toda a gente?

Aprende a estar contigo e a gostar-te. Quando foi a última vez que te olhaste ao espelho? E a última vez que te viste realmente nesse espelho? Tira um dia por semana para te contemplares. Desliga o telefone, pausa o Netflix, pára de fazer swipe e de pôr likes. Dedica-te a ti.

Sabe quem és sem a fachada profissional. Descobre o que te move e o que te inspira realmente. Só andas cá uma vez. Não te leves demasiado a sério. Uma boa gargalhada faz vibrar o palato e o coração. Sê gentil contigo, mesmo quando te desiludes. Os erros de hoje tornam-te na conquistadora de amanhã. Uma mulher forte é — acho eu — irresistível.

Descarta os que de ti têm medo ou que preferem um bicho dócil. Insurge-te contra a mediocridade. Sabe-te chata e exigente. Rodeia-te de amigos desafiantes e corajosos, desses que te aceitam independentemente do crime cometido.

Sê grata. Vives num país extraordinário. Perdoa-lhe os muitos defeitos que tem. Se não conseguires, emigra. Recusa com mestria o deixa-andar.

Vai. Faz as malas e vai para longe. Perde-te, muitas vezes. Pede ajuda. Perde a vergonha. Sublima-te. Sê maior que tu própria. Quando deres por ti a dizer “nunca pensei que fosse capaz” significa que conquistaste os teus medos, e que podes pensar em voltar.

Constata quando voltares, como tudo continua igual, e estranhamente como tudo mudou. A vida continuou sem ti. Não és indispensável. Ninguém é.

Cansa-te de ambições e de quereres chegar — onde mesmo? — imediatamente. Aprecia o aqui e agora. Afinal estás aqui, agora. Se amanhã não tiveres a sorte de abrir os olhos, ficou algo por dizer? Por fazer? Por viver?

Decide-te.

Arruma os amores que não te serviram até agora. Não faças o frete de ficar com alguém que não te acrescenta nada. Já não tens — felizmente — idade para isso. Em caso de turbulência, trata de ti primeiro. Cura as tuas neuras e verifica que tens o coração bem remendado. Arruma a tua cabeça, alma e coração antes de partires para outra.

Mas depois, quando estiveres operacional, parte para outra. Arrisca a electrocussão de te apaixonares. Põe as emoções ao fresco mas nada esperes. Sente o calor no decote, o arrepiar da pele e o acelerar do pulso. Sê vulnerável mas não te digas vulnerável.

Ama.

No festival amoroso duvida de palavras doces, mas sem seres cínica. Acredita nos actos, mais do que nas palavras. Sê retro nos assuntos do coração. Privilegia a sedução vintage — o telefonema, o bilhetinho, o encontro físico sem telemóvel na mão — porque a vida não se faz de instagramers nem de likes , e tu não és estreante nesta coisa do amor.

Zanga-te, mas sê rápida e incisiva. Não te demores mais do que alguns dias num ginjal de sofrimento. Esquece-te da chatice, mas não de como isso te fez sentir. Essa cicatriz vai ajudar-te mais tarde. Aceita que — ao contrário do que pensavas — aos 30 a vida não está decifrada.

Sê honesta contigo, sempre.

Para ti trintona,
um beijo repenicado.

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