Incêndios pararam o Governo. Negociação do OE volta em momentos

O Governo queria fechar as linhas gerais do Orçamento, mas os incêndios pararam tudo. A ordem agora é para voltar à mesa de negociações. E não perder no controlo de danos.

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Costa queria fechar um acordo com as esquerdas para o próximo OE até final de Junho LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Foi mais um dano colateral dos incêndios: ao contrário do que pretendia António Costa, o Governo teve que parar duas semanas e concentrar toda a atenção no controlo de danos da tragédia de Pedrógão Grande. Não foram dias difíceis só para o primeiro-ministro e para a equipa do MAI: vários responsáveis sectoriais tiveram que concentrar atenções na ajuda às populações, assim como na coordenação com os partidos à esquerda. No passado, Bloco e PCP não pouparam os governos quando os incêndios acabaram com vítimas. Desta vez, com 64 vítimas, era fundamental garantir a coesão da maioria.

Pelo caminho ficou um objectivo do primeiro-ministro: se Costa queria fechar um acordo com as esquerdas para o próximo Orçamento do Estado de 2018 até ontem, final do mês de Junho, nestas duas semanas ficaram suspensas todas as negociações. "Serão retomadas nos próximos dias", disse fonte do Governo ao PÚBLICO. "Isto foi um drama para todos, mas agora é preciso que o país — e os ministros — retomem a normalidade."

O problema é que o resto do país não parou. Em várias áreas, a pressão sobre os ministros subiu — até em áreas de grande peso orçamental. Na Saúde, há um aviso de paralisação aos partos (que o Ministério da Saúde mandou para a PGR, perguntando sobre a sua legalidade), uma greve em curso dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica e uma negociação difícil em curso com os médicos. Na Justiça, também correram mal as negociações com os juízes (havendo uma ameaça de greve para Agosto em cima da mesa, com consequências para a normalidade do processo das autárquicas). Na Educação, a Fenprof diz que em Setembro voltará à carga com as reivindicações. E no MAI ainda estão pendentes reclamações da PSP, que levaram a um protesto em Lisboa — que terminou nas Finanças, onde está a chave para todas as reclamações. 

Em comum, estes sectores reclamam melhores salários. E também progressões nas carreiras, congeladas desde 2010 — e que são um dos grandes pontos em negociação com Bloco e PCP para 2018. A margem orçamental prevista por Mário Centeno é reduzida para acudir a tantos fogos, mas um acordo global neste ponto podia ajudar a diminuir a pressão dos sindicatos a tempo das autárquicas, evitando greves sucessivas entre Agosto e Setembro. "Essa pressão não é necessariamente má", diz um membro do Governo, explicando que a entrada em campo dos sindicatos ajuda a tirar pressão das direcções do Bloco e, sobretudo, do PCP. Mas, claro, será preciso uma solução.

Ao mesmo tempo, não será possível descurar o campo dos incêndios. Esta semana, Costa acertou o foco político: proteger a ministra da Administração Interna, mostrar transparência, aproveitar a Comissão Independente para ganhar tempo para o apuramento dos factos. As conclusões desse inquérito, por sugestão do PS, estarão prontas apenas em Outubro, já depois das autárquicas. Até lá, há um trunfo que vai sendo passado: o relatório final do IPMA, que mostra como as condições meteorológicas nas horas fatídicas foram surpreendentes. Na quinta-feira, o jornal i deu conta de um focus-group pedido pelo Governo que teria feito respirar de alívio o núcleo duro do Governo: a crise não afectou a sua imagem. Ninguém confirmou a informação, mas a imagem ficou.

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