Chineses da HNA aterram na TAP com cerca de 3% do capital

A HNA, sócia de David Neelman na Azul, vai adquirir uma fatia perto de 7% no consórcio privado Atlantic Gateway.

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Novo conselho de administração, presidido por Miguel Frasquilho, foi votado favoravelmente pelos accionistas presentes na reunião Nuno Ferreira Santos

O grupo chinês Hainan Airlines (HNA) está prestes a entrar no consórcio privado Atlantic Gateway, onde vai ficar com perto de 7% do capital. Essa posição corresponde a cerca de 3% da transportadora área, já que a empresa formada por Humberto Pedrosa e David Neeleman detém agora 45% da TAP. O realinhamento do capital social da empresa foi oficialmente aprovada na assembleia geral da TAP que decorreu esta sexta-feira, em Lisboa, nas instalações da antiga FIL.

De acordo com uma fonte ligada ao processo, neste momento faltam apenas acertar alguns detalhes da operação. Actualmente, a Atlantic Gateway, criada em 2015 (e cuja sede é a mesma do grupo Barraqueiro, de Pedrosa), é detida a 51% pela HPGB, holding pessoal de Humberto Pedrosa, e em 49% pela DGN, de David Neeleman.

No memorando de entendimento assinado entre o actual Governo e a Atlantic Gateway para alterar as posições accionistas (cabendo 50% do Estado) já ficara estabelecido que o Estado autorizava a entrada da HNA no consórcio privado, e a posição da ordem de 3% na TAP tenderá a subir no futuro.

Da mesma forma, foi autorizada a subscrição directa de obrigações convertíveis em acções por parte do grupo asiático. Caso tenha adquirido títulos de divida da TAP, emitidos no ano passado, a HNA fê-lo dentro da fatia que coube à Azul, transportadora área brasileira.

Controlada por David Neeleman, a Azul tem a HNA como investidor de referência (é dona de 22% da empresa) e vai passar a deter uma participação directa na TAP quando as obrigações forem convertidas em acções.  

Diferentes acções e novos administradores

Na assembleia geral extraordinária de ontem um dos pontos votados favoravelmente foi o da criação de diferentes tipos de acções: A (com mais direitos), B (com menos direitos, havendo depois as C, as mais relevantes, quando se realizar a conversão de obrigações). Este processo está ligado à questão dos direitos económicos (como os lucros a distribuir ou o encaixe de venda de activos), dos quais o Estado direito a, no máximo, 18,75%. Por parte dos trabalhadores, estes ficam com 5%, cabendo o resto aos investidores privados.

A reunião de accionistas serviu também para aprovar os nomes propostos pelos privados e pelo Governo para a nova administração (embora os pelouros ainda não sejam conhecidos). Por parte da Atlantic Gateway, esta avançou com os nomes de Fernando Pinto, David Pedrosa, Otto Urbahn (que irão formar a comissão executiva), Humberto Pedrosa, David Neeleman e Neng Li.

Neng Li, de 36 anos, pertence à administração da Azul, e representa os interesses da HNA. Com um bacharelato em Finanças pela Universidade de Macau, sabe expressar-se em português e desde 2013 está ligado aos investimentos internacionais do grupo (onde entrou em 2005). É também, entre outros cargos, presidente da China Civil Aviation Investment.

Já o Governo propôs os nomes de Diogo Lacerda Machado (advogado, amigo pessoal de António Costa, está ligado ao grupo luso-macaense Geocapital), Ana Pinho (presidente de Serralves), António Menezes (ex-CEO da SATA), Esmeralda Dourado (gestora, ligada à unidade de missão para a recapitalização das empresas), Bernardo Trindade (ex-secretário de Estado do Turismo de Sócrates) e Miguel Frasquilho. Este último, ligado ao PSD, e que deixou há pouco tempo a presidência da AICEP (organismo estatal ligado aos investimentos e exportações), ocupa agora a cadeira de presidente do conselho de administração (terá voto de qualidade).

Tanto as alterações aos estatutos que estavam em cima da mesa (para adequar a empresa aos accionistas privados), como a eleição do novo conselho de administração foram aprovados por unanimidade, de acordo com um comunicado enviado pela empresa.

Pouca presença de trabalhadores/accionistas

Esta foi a primeira reunião em que puderam participar os trabalhadores que compraram os 5% de acções disponíveis no âmbito da Oferta Pública de Venda (OPV).

No entanto, e apesar de 557 funcionários (entre o total de 603) terem ficado com mais de 100 acções, o que lhes permitia estar presente no encontro, com poder de voto, foram poucos os que marcaram presença: cerca de 30 (0,14% do capital). Um dos primeiros a chegar ao recinto, em Alcântara, foi Humberto Pedrosa (prevista para as 16 horas, a reunião sofreu um atraso), tendo o Estado sido representado pelo presidente da Parpública, Miguel Cruz.

Na reunião, a empresa fez um balanço do que foi feito desde a entrada dos privados (Fernando Pinto foi mantido no cargo por Pedrosa e Neeleman), como da estratégia comercial e do investimento em novos aviões. De acordo com o comunicado, a gestão partilhou o plano de actividades da TAP para este ano, e “esclareceu todas as questões colocadas pelos participantes”.

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