Sindicato: suspensão da Lusa, RTP e RDP na Guiné-Bissau é caso político

A presidente do Sindicato de Jornalistas diz que "jornalistas são os principais danos colaterais" num "caso político".

Foto
Filipe Arruda / Arquivo

A presidente do Sindicato de Jornalistas afirmou esta sexta-feira que a suspensão das actividades da agência Lusa, RTP e RDP na Guiné-Bissau é um caso político no qual os jornalistas são os principais danos colaterais.

“Não tendo muitos detalhes para além daquilo que conhecemos através do que foi publicado, quer na Lusa, quer na RTP, aquilo que nos parece é que isto é um caso político em que os jornalistas são os principais danos colaterais e isto não pode acontecer”, afirmou Sofia Branco à agência Lusa.

O ministro da Comunicação Social guineense anunciou a suspensão das actividades da RTP, da RDP e da agência Lusa na Guiné-Bissau, alegando a caducidade do acordo de cooperação no sector da comunicação social assinado entre Lisboa e Bissau.

Segundo Sofia Branco, trata-se de uma decisão dirigida a órgãos de comunicação que “são maioritariamente detidos pelo Estado [Português]" e, nessa qualidade, os jornalistas "são um dano colateral do Estado que se quer atingir, que é Portugal no seu conjunto em termos políticos”, ressalvando não lhe parecer que haja algo dirigido contra estes profissionais.

A dirigente do sindicato português salientou que os jornalistas “estão a exercer o direito à informação”, quer para a população da Guiné-Bissau, quer para Portugal, onde existe uma grande comunidade oriunda daquele país. “Imensas pessoas da Guiné-Bissau a viver aqui querem saber o que se passa no seu país e sabem-no através da Lusa e da RTP, quer versão rádio, quer televisão”, continuou a responsável.

Para Sofia Branco, “há aqui uma instrumentalização”, notando que “os jornalistas acabam por ser muito visíveis”, pelo que supõe que “a ideia tenha sido essa, cortar aquilo que é mais visível”.

“De facto, na Guiné-Bissau, a RTP e a Lusa são órgãos muito conhecidos das pessoas em geral, portanto uma decisão destas tem um grande impacto, não só aqui, mas também lá”, adiantou, insistindo que a decisão tem “um dano colateral que não é admissível”, dado que “o valor que está a prejudicar é o da liberdade de informação”.

A responsável frisou que a liberdade de informação “deve estar acima de acordos políticos que as partes vão resolver entre si mais tarde ou mais cedo” e “sobre os quais os jornalistas não são tidos nem achados, como é evidente”.

A presidente do Sindicato de Jornalistas adiantou estar a ser equacionado o envio de uma missiva ao ministro da Comunicação Social guineense “a pedir mais esclarecimentos”, ao mesmo tempo que decorrem tentativas para estabelecer contactos com organizações de jornalistas daquele país, como o sindicato e associações. O sindicato está também a tentar contactar jornalistas guineenses radicados em Portugal para ajudar nesta “ponte”.

Quanto aos jornalistas portugueses da Lusa, RTP e RDP a trabalhar naquele país africano de língua oficial portuguesa, o sindicato lamenta que estejam nesta situação “e não possam trabalhar, que é essa a sua função”.

A Guiné-Bissau tem vivido uma situação de crise institucional desde as últimas eleições, com um afastamento entre o partido vencedor das legislativas e o Presidente da República, também eleito.

O actual Governo não tem o apoio do partido que ganhou as eleições com maioria absoluta e este impasse político tem levado vários países, entre os quais Portugal, e instituições internacionais a apelarem a um consenso.

Sugerir correcção
Comentar