ONU pede ao Iraque que trave "actos de vingança" em Mossul

Centenas de famílias, segundo a Reuters, terão sido intimadas a sair da cidade por alegadamente terem colaborado com o Daesh, durante a ocupação jihadista.

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Reuters/ALAA AL-MARJANI

Oito meses depois do início da batalha de Mossul, o território está livre do controlo do Daesh, mas a segunda cidade do Iraque continua num clima de grande tensão. A situação já levou a uma intervenção pública da Organização das Nações Unidas (ONU), que está preocupada com as expulsões forçadas que diz estarem a ser levadas a cabo pelas tropas no terreno.

Centenas de famílias, segundo a agência de notícias Reuters, terão recebido cartas ameaçadoras e um prazo para deixarem Mossul, por suspeita de terem colaborado com aquela organização terrorista que ocupou e passou a controlar a cidade em 2014.

"Apelamos ao governo iraquiano que tome medidas para travar essas expulsões que estão iminentes, bem como qualquer outro tipo de punição colectiva, e que ao invés reforce o sistema jurídico e leve os responsáveis a responder perante a justiça", declarou o porta-voz da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville. Para as Nações Unidas, as cartas e o prazo dado aos moradores em causa aparentam ser um "acto de vingança".

Mossul tinha 1,5 milhões de habitantes, era um importante centro político e económico e foi o último bastião do Daesh no Iraque. Daí a importância estratégica mas também simbólica da conquista da cidade, que "era uma das mais diversas, com uma população de árabes, curdos, sírios, turcos e muitas minorias religiosas", como sublinha a BBC.

Era também uma cidade de maioria sunita (albergando a maior população cristã do Iraque), num país dominado pelos xiitas. E este facto, pelas palavras do responsável da ONU, pode estar a pesar tanto ou mais do que a suspeita do exército iraquiano em redor de possíveis colaboracionistas do Daesh, que impôs um regime brutal na cidade, levando ao êxodo de muitos moradores, à perseguição de minorias e ao assassinato de opositores, recorda a mesma estação britânica.

Desde quinta-feira, dia em que o Iraque tomou as ruínas da mesquita al-Nuri e declarou o fim do califado do Daesh, que a Reuters distrubui fotografias que mostram também civis iraquianos a regressarem a Mossul. São pessoas que fugiram dos jihadistas e que agora voltam depois da libertação da cidade.

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