FMI: Investimento e exportações melhoram perspectivas para Portugal

No relatório sobre a última visita que fez a Portugal, o Fundo Monetário Internacional elogia as medidas para estabilizar a banca. Mas insiste que é preciso resolver o problema do malparado e mantém pressão para avançar com reformas estruturais. Défice de 1,5% atingido "confortavelmente".

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Reuters/© Yuri Gripas / Reuters

"As perspectivas de curto prazo para Portugal melhoraram consideravelmente, apoiadas numa recuperação do investimento e num crescimento contínuo nas exportações, numa altura em que a recuperação da economia da zona euro ganhou ritmo", explica o FMI no documento divulgado esta sexta-feira, dia 30 de Junho, que concluiu nova etapa de avaliação da missão que visitou Portugal entre 19 e 29 de Junho

As melhorias identificadas na economia portuguesa assentam, segundo os técnicos do FMI, "no forte crescimento contínuo do turismo e da construção relacionada". No caso do turismo, perspectiva-se o quarto ano consecutivo de crescimento a dois dígitos. Por outro lado, verificam-se também "sinais de uma alargada recuperação nas exportações, impulsionadas por uma recuperação robusta da zona euro". 

Este contexto, marcado ainda pela melhoria nos indicadores de confiança e do emprego, deverá resultar, segundo a entidade sediada nos Estados Unidos, numa aceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,5% em 2017 e 2% em 2018.

No que diz respeito ao défice orçamental, o FMI considera que o objectivo de 1,5% do PIB este ano está "confortavelmente" ao alcance de Portugal, sublinhando por outro lado que "as condições favoráveis do ciclo permitem uma boa oportunidade para uma redução mais ambiciosa da dívida pública este ano", em linha com as metas de médio prazo do Programa de Estabilidade. Isto, depois de frisar que o desempenho em 2016 "foi significativamente melhor que o esperado, reflectindo o forte esforço para conter a despesa", o que permitiu sair do Procedimento de Défice Excessivo. 

Banca melhorou apesar do malparado

O FMI mantém o tom optimista ao longo do documento que sintetiza a sua visão sobre o estado da economia portuguesa, estendendo os elogios às medidas tomadas para estabilizar o sector bancário, cuja "estabilidade e confiança melhoraram vincadamente no último ano", depois da recapitalização da Caixa, da venda em curso do Novo Banco, da "enorme" injecção de capital no BCP e da tomada de controlo do BPI pela CaixaBank. 

Uma evolução que, no conjunto, contribuiu para uma melhoria do sentimento dos mercados em relação a Portugal, que provocou "uma acentuada descida dos juros na dívida pública".

Ainda assim, a instituição liderada por Christine Lagarde alerta para os vários riscos que enfrentam os bancos portugueses, em especial a "baixa qualidade dos activos, a fraca rentabilidade e as reduzidas almofadas de capital", num contexto dominado pelo elevado peso dos créditos de fraca qualidade.

Perante este cenário, o FMI apela a "esforços ambiciosos" dos bancos para fortalecerem os seus balanços, através da sua "profunda limpeza" e redução da dívida das empresas. O que deverá incluir "um plano credível" para "limpar, reestruturar ou vender" activos com mau desempenho, admitindo a instituição que "a plataforma coordenada que está a ser desenvolvida pelos bancos com o apoio das autoridades é uma iniciativa importante" para atingir os objectivos nesta área.

Potencial da economia exige reformas estruturais

Perante o quadro macroeconómico traçado ao longo do relatório, o FMI destaca que com o aumento do potencial de crescimento da economia, exige-se "reformas estruturais adicionais para impulsionar o investimento e a produtividade". Sublinhando que o recente crescimento do investimento foi em parte financiado através das empresas, internamente, o Fundo sublinha que "os níveis de investimento, contudo, precisam de aumentar substancialmente para melhorar o potencial de médio prazo" da economia portuguesa.

Em causa estão, segundo o FMI, um mercado de trabalho mais flexível, com um alinhamento dos aumentos salariais com a produtividade, permitindo a Portugal "aproveitar a entrada de trabalhadores qualificados no mercado de trabalho ao mesmo tempo que salvaguarda a competitividade".

Por outro lado, as reformas estruturais devem ainda ter em conta os factores que continuam a condicionar a percepção que continuam a influenciar a percepção dos investidores sobre o ambiente de negócios, incluindo "o processo judicial" e a "complexidade regulatória" que condicionam a vida das empresas. 

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