64p., uma colecção de fotolivros onde o que conta é a intensidade (e não o tamanho)

Os dois primeiros autores da colecção são o francês Antoine d’Agata, com Lilith, e o brasileiro Miguel Rio Branco, com Mechanics of Women.

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No ano em que comemora os 20 anos do lançamento da colecção PhotoBolsillo (voltada para a divulgação de autores espanhóis e que já ultrapassou os 100 livros publicados), a editora espanhola La Fábrica lança-se num novo projecto editorial, a série 64p, que tem a ambição de revelar ensaios fotográficos curtos e inéditos de autores internacionalmente reconhecidos. Os dois primeiros autores da colecção são o francês Antoine d’Agata, com Lilith, e brasileiro Miguel Rio Branco, com Mechanics of Women.

Álvaro Matías, director geral da La Fábrica, explicou na apresentação da colecção em Madrid que a ideia é encontrar trabalhos com uma dimensão pequena mas que se possam afirmar num livro. “Queremos mostrar estes ensaios de maneira compreensiva e pô-los no mercado a um preço acessível, que será de 19 euros. Cada escolha terá um tratamento de joalharia, mas manterá um formato simples”, explicou Matías.

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A 64P. “nasce com a vontade de reivindicar o valor do curto”. “Numa conjuntura como a actual, na qual o desenvolvimento das novas tecnologias nos converteu em consumidores vorazes e impacientes, esta colecção quer ocupar na fotografia o lugar que o conto ocupa na criação literária ou a curta-metragem no género cinematográfico. Um espaço para o curto, onde o importante é a intensidade e não a duração.”  

Para liderar esta nova colecção, concebida com um formato pequeno, a La Fábrica escolheu o editor Gonzalo Golpe, que terá a responsabilidade de publicar quatro títulos por ano. Depois de ser apresentada no ParisPhoto, no início de Novembro, a série 64p. começará a ser distribuída por todo mundo. E porque se chama 64p.? Álvaro Matías: “Chama-se assim porque cada livro terá 64 páginas, tão simples quanto isso. Queríamos um nome que funcionasse em todas as línguas e achamos que este se adaptava bem. Acho que as pessoas em Portugal, na Holanda ou em França o compreenderão bem.”

Em Lilith, Antoine d’Agata (Marselha, 1961) mostra a sua relação com uma mulher cambojana, viciada em metanfetamina e prostituta deste os 12 anos. O livro documenta três encontros entre o fotógrafo e a mulher, que ocorreram entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2016, sequência através da qual é possível vislumbrar fases de ascensão emocional, estagnação e colapso em que vivem os viciados nesta substância derivada da anfetamina, usada como estimulante do sistema nervoso central.

Aqui “Lilith mulher remete para Lilith mito, a primeira mulher de Adão, um demónio feminino que domina o homem sexualmente e que foi criada à imagem dos deuses não para servir o homem, mas para ser seu igual”. As imagens, violentas e perturbadoras, remetem para a imagética habitual do fotógrafo francês, onde a sua vida e a sua experiência íntima se mistura com a sua arte.

Através de Mechanics of Women Miguel Rio Branco (Las Palmas de Gran Canaria, 1946) propõe uma reflexão sobre as relações, muitas vezes turvas e conflituosas, entre homens e mulheres. É também um ensaio fotográfico sobre “sedução a desigualdade de género, a dominação, possessão e sexo”. Nas imagens reina o confronto clássico entre o masculino e o feminino, através de combinações enunciadas poeticamente, como é timbre na obra de Rio Branco.

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Antoine d'Agata. Phnom Penh, 2008 Antoine d'Agata
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