"Acampar" no meio-campo contrário

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Reuters/MAXIM SHEMETOV

Se pudéssemos escolher apenas um atributo para colar um rótulo ao Chile a característica seria esta: intensidade. Mas uma palavra é manifestamente curta para traçar um retrato, ainda que sempre superficial, sobre uma das selecções mais frenéticas desta Taça das Confederações. O detentor da Copa América é uma equipa bem organizada, com princípios sólidos, forte nas transições ofensivas e tremendamente pressionante, escolhendo o último terço do terreno como zona privilegiada para condicionar a acção do adversário.

Em tese, Portugal poderá hoje esperar um adversário disposto em 4-3-3, que facilmente se transforma num 4-4-2 losango por força das movimentações de Arturo Vidal. A posição ocupada pelo médio do Bayern Munique é, de resto, fundamental para a dinâmica chilena, já que funciona como terceiro elemento da frente de ataque no momento do pressing e como quarta peça no corredor central na altura da construção. Para além da influência táctica que carrega, o poderio físico e a capacidade de decisão de Vidal no último terço (passe ou remate) convidam a uma vigilância apertada.

O pressing muito ousado levado a cabo pelos sul-americanos é feito, muitas vezes, com cinco e até seis elementos no meio-campo contrário, com coberturas individuais que limitam (e muito) a saída de bola do rival. É comum, por isso, ver o Chile recuperar a bola em zonas adiantadas e partir de imediato para o ataque à baliza, contando para o efeito com um tridente de luxo, capaz de gerar desequilíbrios individuais: Alexis Sánchez à esquerda, Vidal ao centro e Eduardo Vargas mais descaído sobre a ala direita.

Actuando com um bloco alto, para encurtar espaços entre sectores e minimizar o impacto de uma abordagem audaz, a selecção orientada por Juan Antonio Pizzi tem em Marcelo Diaz e Charles Aranguiz os elementos que asseguram os equilíbrios nas transições (ofensivas e defensivas). O médio do Celta de Vigo funciona, também, algumas vezes como terceiro central, contribuindo para uma saída de bola a três, que permite a projecção de Mauricio Isla e Beausejour pelos corredores direito e esquerdo, respectivamente.

Neste capítulo, é pela ala esquerda que o Chile desenha mais jogadas de envolvimento, graças à dinâmica criada entre Beausejour (fiável no transporte e certeiro no cruzamento) e Alexis, que cai na linha ou rompe por dentro com igual facilidade. Do lado oposto, Isla não dá tanta profundidade e as combinações com Vargas costumam surgir mais em terrenos interiores. Quando não conseguem construir em apoio e pelo corredor central, o seu habitat preferencial, os sul-americanos exploram a capacidade de desmarcação de Alexis e Vargas, em diagonais, e tentam saltar linhas com passes longos com origem nos centrais, especialmente em Gary Medel.

Apesar da grande disponibilidade do seu meio-campo, o Chile (que nas bolas paradas opta por uma cobertura zonal) denota algumas dificuldades nas transições defensivas. Ultrapassada a primeira linha de pressão, a equipa fica exposta e, tendo em conta o total de unidades que coloca nos últimos 50 metros, acaba por enfrentar com frequência situações defensivas em igualdade numérica. Um contexto naturalmente interessante para jogadores tecnicamente evoluídos como Ronaldo, Quaresma, Bernardo Silva ou Nani.

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