Governo diz que não é preciso "plano de emergência" para o Verão

António Costa recebe hoje a esquerda, em São Bento, para falar sobre incêndios. O debate segue, depois, na Assembleia da República. E pode não ser fácil.

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António Costa reúne-se com os partidos da esquerda LUSA/MIGUEL A. LOPES

As reuniões não foram publicitadas, mas também não são o segredo mais bem guardado. António Costa começa esta manhã a receber os partidos da esquerda para falar sobre os incêndios que, em menos de uma semana, queimaram 46.009 hectares de floresta - e tiraram a vida a 64 pessoas. E esta pode não ser uma reunião fácil para a "geringonça": é que o Bloco já pediu um plano de emergência ao MAI, para assegurar que o Verão não vai trazer mais más notícias. E o Governo tem um "não" para a resposta.

Foi no sábado, antes da reunião com o primeiro-ministro ter sido conhecida, que o Bloco de Esquerda deu a conhecer a sua agenda: “Apurar o que aconteceu, responsabilizar quem deva ser responsabilizado e ter um plano em marcha”, disse Catarina Martins. “A Protecção Civil tem de ser capaz de apresentar um plano de emergência ao país, em que tirando consequências nos diz quais são os mecanismos que tem em prática para poder responder”, exigiu a líder do Bloco.

O Governo, neste plano, não tem boas notícias. "A Protecção Civil tem um plano, o dispositivo é evolutivo e ajusta-se naturalmente às necessidades", disse uma fonte do Executivo ao PÚBLICO, explicando que logo no dia a seguir à tragédia estiveram em campo mais de 9000 pessoas, combatendo o incêndio e dando apoio às populações. Agora, já com a Fase Charlie em pleno, os meios estão em plena utilização, acrescenta a mesma fonte.

Restam, portanto, outros dois temas para concertar: o do apuramento das responsabilidades, onde António Costa pode explicar os passos que deu - e a aceitação da proposta do PSD para que seja uma comissão independente a fazer a avaliação final sobre o que aconteceu; e o tema da reforma da floresta, que está parado há meses na Assembleia e que agora se quer despachar antes do Verão.

Mesmo neste último caso, há muita pedra para partir entre os partidos. Porque estes têm pontos de partida diferentes sobre quem pode gerir as terras que ninguém reclame como suas, nem sobre a utilização dos pinheiros - onde os bloquistas reclama a “revogação da lei de Assunção Cristas, travando o crescimento do eucalipto e protegendo espécies autóctones”. A delegação bloquista será chefiada por Catarina Martins e inclui Pedro Filipe Soares, Mariana Mortágua, Jorge Costa, Carlos Matias e Pedro Soares. 

Também o PCP organizou uma audição no Parlamento, com bombeiros, deixando algumas pistas sobre as preocupações que os comunistas poderão levar a São Bento. “Apresentaremos propostas para responder aos problemas da prevenção e do combate aos fogos que é ainda necessário assegurar, bem como ao apoio às vítimas. Proporemos a limitação rigorosa da plantação de eucalipto, proibindo-a explicitamente em zonas de regadio, bem como a recuperação dos serviços de extensão rural e do corpo de guardas florestais”, anunciou o PCP, que não divulgou a composição da delegação que reunirá com António Costa.

Amanhã, em debate quinzenal, o tema voltará a estar no centro das intervenções. Para o dia seguinte, quinta-feira, o PSD agendou uma discussão sobre “A segurança, a protecção e a assistência das pessoas no decurso do trágico incêndio de Pedrogão Grande”. E na sexta-feira também o Partido Ecologista Os Verdes avança com uma interpelação ao Governo. Não há dúvidas: os incêndios são o tema político da semana.

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