BE diz que à frente do “negócio” do SIRESP deve estar a segurança das populações

Catarina Martins propôs um sistema de comunicações de emergência público, com responsabilidade pública. "O modelo do SIRESP é um modelo que já se sabe que falha, que é inútil, que fica caro demais", acrescentou.

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A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu hoje que à frente do negócio do SIRESP deve estar a segurança das populações LUSA/PAULO CUNHA

A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu hoje que à frente do negócio do SIRESP deve estar a segurança das populações e Portugal já devia ter aprendido que precisa de um sistema de comunicações de emergência público.

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A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu hoje que à frente do negócio do SIRESP deve estar a segurança das populações e Portugal já devia ter aprendido que precisa de um sistema de comunicações de emergência público.

Catarina Martins, que falava aos jornalistas em Serpa, no distrito de Beja, reagia ao relatório da operadora sobre o desempenho do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) durante o incêndio que deflagrou no dia 17 de junho em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.

No relatório, que foi publicado hoje no portal do Governo, a operadora refere que "não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma estação base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio", mas admite que se registaram "situações de saturação".

"Infelizmente, não é a primeira vez que o SIRESP tem falhas e já devíamos ter aprendido que precisamos de um sistema de comunicações integralmente público, com responsabilidade pública, e que à frente do negócio de uma PPP [parceria público-privada] esteja a segurança das populações", disse Catarina Martins.

O relatório da operadora sobre o desempenho do SIRESP "tem algumas contradições", porque "diz que não houve falhas, mas depois diz que, na verdade, houve sobrecarga e não funcionou", recordou Catarina Martins.

A coordenadora do Bloco de Esquerda frisou que a Autoridade Nacional de Proteção Civil "foi a primeira entidade" a "dizer ao país que houve falhas graves nas comunicações ao longo de quatro dias, nos momentos mais críticos até do incêndio, que foram um entrave ao próprio combate ao incêndio e à proteção das populações".

"O modelo do SIRESP é um modelo que já se sabe que falha, que é inútil, que fica caro demais", frisou, lembrando que o Bloco de Esquerda "foi contra o modelo do SIRESP desde o início por dois motivos".

Em primeiro lugar, "porque o modelo financeiro é absurdo, é uma PPP que custou ao Estado cinco vezes mais do que o custo concreto de montar o sistema, e não tem nenhum sentido que seja um privado a ter na mão um sistema tão importante de comunicações, é uma responsabilidade pública do Estado", explicou.

Em segundo lugar, continuou, "também desde o início, o Bloco de Esquerda levantou dúvidas sobre o próprio modelo de funcionamento técnico, porque o SIRESP ao concentrar demais provoca que quando haja um problema qualquer há muito tipo de comunicações que fica impossibilitado".

"E o SIRESP não serve para os dias fáceis, o SIRESP serve para os momentos complicados", quando "é preciso que as coisas funcionem", e "uma excessiva concentração não ajuda a ultrapassar as dificuldades", disse.

Catarina Martins falava aos jornalistas depois de se ter reunido hoje à tarde com a direcção do Centro de Saúde de Serpa e de ter integrado a delegação do Bloco de Esquerda que hoje de manhã se reuniu com o Governo para debater os recentes incêndios e a reforma florestal do país.

Segundo a dirigente bloquista, "a proposta de reforma florestal do Governo não dá garantias de combater a mancha contínua de eucalipto e pinheiro, que é o que as pessoas vêem como o problema quando há os enormes incêndios incontroláveis, nem é capaz de controlar a área de eucalipto no país".

"Portugal tem a maior área absoluta de eucalipto de toda a Europa e uma das maiores do mundo", frisou, defendendo que Portugal precisa de "ordenar a floresta" e frisando que, atualmente, no país, "aumentou a consciência da necessidade de intervir na floresta, de aumentar a intervenção pública e de abordar de uma forma séria o problema da mancha contínua de eucalipto".

Catarina Martins disse que vê "disponibilidade por parte do Governo para que haja alguns avanços concretos" na reforma florestal do país, contudo "há ainda algumas dificuldades", mas também "um trabalho que está a ser feito e achamos que é importante.

"A reforma florestal dará frutos daqui a décadas, mas tem de começar já e precisamos, entretanto, de outras medidas mais de curto prazo para garantir segurança este verão e que no próximo estamos mais preparados e não temos as tragédias iguais todos os verões", defendeu.

Catarina Martins voltou a defender o regresso à esfera pública do Hospital de S. Paulo, em Serpa, cuja gestão foi transferida para a Santa Casa da Misericórdia de Serpa.

O hospital de Serpa "foi entregue à Misericórdia", o Bloco de Esquerda propôs, no Parlamente, que voltasse para a esfera pública, mas "isso não aconteceu, e, entretanto, nos últimos meses, a situação tem vindo a degradar-se no hospital, com salários em atraso e falta de resposta aos próprios doentes, que depois têm uma rede de cuidados de saúde primários que lhes vai tentando responder", disse.

"Serpa precisa do hospital a funcionar e o que se poe aqui em evidência é, por um lado, a necessidade de o hospital voltar para a esfera pública e, por outro lado, ser capaz de ter um corpo próprio de pessoal médico e de enfermagem para que possa responder" aos utentes, defendeu.