João Teixeira Lopes critica “indiferença” no fecho do Centro Social de Miragaia

O candidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal do Porto considera que a pressão imobiliária está na base do encerramento do Centro Social da Paróquia de Miragaia.

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À porta do Centro Social da Paróquia de Miragaia, os cartazes contra o encerramento continuam a chamar à atenção de quem por lá passa. Nelson Garrido

O candidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal do Porto, João Teixeira Lopes, esteve esta terça-feira no Centro Social da Paróquia de Miragaia, que vai fechar portas a partir do dia 1 de Setembro, e criticou a acção da autarquia e a diocese no processo de encerramento.

O candidato considerou que este é “um caso emblemático em vários sentidos”. Por um lado, disse João Teixeira Lopes, é o reflexo da falta de apoios sociais na cidade do Porto, acrescentando que “apenas 3% do orçamento camarário, tirando a habitação social, está consignado ao apoio social, o que é muito pouco numa cidade que tem situações de verdadeira emergência”.  

Por outro lado, o candidato acredita que o fecho da instituição é também um exemplo da pressão imobiliária que existe na cidade: “Este edifício pode vir a ser transformado para outros usos e se olharmos para o que se passa em particular nas fachadas da zona, vemos bem como essa pressão é muito grande”, alertou.

Na Assembleia Municipal de 19 de Junho, o Bloco de Esquerda apresentou uma moção para que o processo do encerramento do Centro Social de Miragaia fosse reapreciado, mas a iniciativa foi recusada com votos contra do PSD e do grupo de Rui Moreira. Para João Teixeira Lopes, há uma “indiferença da autarquia” e “uma atitude muito pouco cristã da diocese de pensar nos proveitos e não ver isto como um investimento social”. “Condenamos a pressão imobiliária, os grandes proprietários dos negócios imobiliários e em particular a forma como a Câmara não se opôs, antes pelo contrário, facilitou esses negócios imobiliários”, destacou.     

O candidato falou ainda na importância de apoios sociais na zona de Miragaia, "um dos casos mais gritantes de desertificação", para evitar a desagregação das famílias. “Fechar este centro vai contribuir para a desertificação ainda maior desta zona, de Miragaia, do Centro Histórico, e vai contribuir ainda mais para a desagregação dos núcleos familiares”, sublinhou.

Segundo João Teixeira Lopes, numa cidade que tem 27% da sua população com mais de 65 anos e 11% com mais de 75 anos, seria necessária "uma experiência-piloto numa freguesia, com uma rede de cuidadores municipais que prestasse auxilio aos idosos". Estes cuidadores, segundo o candidato, fariam um plano individual para cada idoso.

O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda questionou, na Assembleia da República, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, mas ainda não obteve resposta. O candidato à presidência da autarquia reforçou a importância de uma acção conjugada entre o Governo e a Câmara, sublinhando que “a Câmara, em particular até pela boa relação que existe entre Rui Moreira e a diocese do Porto, teria aqui uma palavra pró-activa”.

Rui Moreira vai reunir-se com trabalhadoras

Na Assembleia Municipal desta segunda-feira, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, confirmou que vai reunir-se com as trabalhadoras do Centro Social da Paróquia de Miragaia, depois de ter recebido um pedido por parte das funcionárias.

As trabalhadoras do centro têm demonstrado o seu descontentamento com a encerramento através da realização de vigílias e uma carta aberta dirigida ao Bispo do Porto, António Francisco dos Santos. O presidente da autarquia sublinhou que o bispo lhe garantiu a recolocação de todos os utentes noutras instituições e, assumiu, acredita na palavra do prelado. O autarca considera que o sector social está submetido a um nível de exigências próprio de países ricos, que lhes coloca muitas dificuldades de financiamento. “Tenho muita pena que o centro social esteja em extinção, gostava que existissem mais centros destes”, afirmou.

O Centro Social da Paróquia de Miragaia é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) fundada em 1961 e conta actualmente com 25 trabalhadoras e cerca de 200 utentes - crianças e idosos - distribuídos pelas diversas valências.

Texto editado por Abel Coentrão

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