Passos fala em pessoas que se "suicidaram" em desespero, mas autoridades dizem que não há casos

De visita ao bombeiros daquela localidade, o líder da oposição apontou o dedo ao Estado. Costa respondeu e o ministro da Saúde também.

Passos garante conhecer casos de suicídio por falta de apoio psicológico RTP

O Estado falhou. E dez dias depois, ainda está a falhar. Pedro Passos Coelho já não modera o discurso. Esta manhã, no final de uma visita aos bombeiros de Castanheira de Pera, o líder do PSD disse aos jornalistas que o acompanharam: “Não precisamos de aguardar por nenhum estudo, avaliação ou auditoria para saber que o Estado falhou. E, dez dias depois, ainda está a falhar”.

No Barreiro, onde foi visitar o Arco Ribeirinho, António Costa respondeu: "Perante uma tragédia desta dimensão, nunca há meios suficientes". 

"Não vou tirar conclusões antecipadas face aos relatórios que foram solicitados, mas ninguém pode deixar de estar revoltado com o facto de, até este momento, termos perdido 64 vidas humanas num incêndio daquela dimensão. Todos nós temos de ser exigentes para esclarecer tudo o que há para esclarecer. Nada poderá ficar por esclarecer", disse o primeiro-ministro. "Não vou estar aqui a entrar em debate com o líder da oposição, nem creio que seja isso que os portugueses esperam do Governo".

Ao primeiro-ministro, o líder do PSD propôs também que crie um mecanismo rápido de atribuição de indemnizações às vítimas. Se tal  não acontecer, o PSD poderá apresentar uma iniciativa legislativa nesse sentido. “O Estado não tomou ainda essa iniciativa”, disse Passos Coelho. O líder social-democrata realçou a necessidade de o Governo avançar com “um mecanismo relativamente às vítimas à guarda do Estado”, que morreram em “vias públicas”, sobretudo na estrada nacional 236-1, no dia 17 de Junho, onde 47 pessoas perderam vida.

Na sua opinião, poderá o executivo de António Costa aprovar um conjunto de medidas urgentes, tal como aconteceu em 2001, da parte do governo de António Guterres, na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios, sobre o rio Douro, em que morreram mais de 50 pessoas. Passos admitiu que, desta vez, seja “um mecanismo mais robusto”, através de um decreto-lei, e sublinhou que “o Estado falhou” na sua obrigação de “garantir a segurança e a vida” dos cidadãos.

Caso de suicídio era boato

A partir do Centro do país, Passos Coelho referiu-se ainda às vítimas indirectas deste processo que vitimou 64 pessoas até ao momento. "Tenho conhecimento de vítimas indirectas deste processo, de pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram, e que não receberam, a tempo, o apoio psicológico que devia ter existido”, lamentou o social-democrata que não se deixará convencer de que "não haverá responsabilidades a apurar por isto”.

Uma informação que, entretanto, o presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, Valdemar Alves não confirma, garantindo, pelo contrário, que no gabinete de crise ninguém tem conhecimento de suicídios. "Há, sim, é boatos", disse Valdemar Alves à RTP. "O que peço às pessoas é que não aceitem. Corram com os boateiros, porque efectivamente, graças a Deus, não há confirmação nenhuma de suicídios".

O presidente da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) repetiu que não há, até hoje, "nenhum caso de suicídio com ligação" directa ao incêndio que começou em Pedrógão Grande. "Não há, até hoje, nenhum caso de suicídio com ligação a essa zona", disse à agência Lusa o presidente da ARSC, José Tereso, reagindo às declarações do presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, que criticou a actuação do Estado no combate ao incêndio que provocou a morte a 64 pessoas. 

Mais tarde, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande assumiu ter sido a fonte da informação que se veio a revelar falsa: "Fui eu que dei ao dr. Passos Coelho uma informação errada. Peço-lhe desculpas por isso".

Apelo ouvido e respondido

Também esta manhã, o ministro da Saúde assegurou, em Sintra, que vai ser prestado apoio psicológico às populações afectadas pelos incêndios além dos 840 atendimentos já efetuados, bem como outros tipos de cuidados de saúde. “A ARS [Administração Regional de Saúde] está a rever o que foi feito, até aqui eu sei, tenho conhecimento de que foram já feitos neste processo mais de 840 atendimentos pelas diferentes equipas de psicologia”, afirmou o ministro Adalberto Campos Fernandes.

O governante, que falava à margem da apresentação do futuro Hospital de Proximidade de Sintra, a ser construído pelo município em colaboração com os ministérios da Saúde e das Finanças. “O apelo que o senhor presidente de câmara fez não só tem de ser ouvido como tem de ser respondido de imediato”, afirmou Adalberto Campos Fernandes, em resposta ao pedido do autarca de Pedrógão Grande sobre a necessidade de psicólogos no terreno.

“Eu diria que o trabalho do ponto de vista da saúde, o trabalho mais importante começa com o fim do sinistro”, salientou o governante.

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