“Vai ser preciso fazer escolhas” no Curtas Vila do Conde

Edição comemorativa dos 25 anos do festival vai decorrer de 8 a 16 de Julho. Secção competitiva nacional tem 16 estreias; a internacional tem 37 filmes.

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Mariphasa, de Sandro Aguilar, vai ter estreia mundial em Vila do Conde dr
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Mariphasa, de Sandro Aguilar dr

Já sabíamos dos concertos dos Mão Morta, Atlantic Coast Orchestra, Chassol, Evols, Capitão Fausto e Pegamonstro, no programa Stereo; e o PÚBLICO já divulgara também que o cineasta “in focus”, este ano, seria o francês F.J. Ossang, que regressa a Vila do Conde para mostrar o conjunto da sua obra. Esta quinta-feira ficámos a conhecer o programa completo da edição n.º 25 do Curtas Vila do Conde, que é um dos acontecimentos do ano no calendário cinéfilo nacional, mas que, desta vez — data redonda oblige —, terá uma programação aumentada e melhorada.

É caso para dizer, e Nuno Rodrigues, um dos fundadores e directores do festival, disse-o na conferência de imprensa de apresentação do programa, no Teatro Municipal de Vila do Conde: “Vai ser preciso fazer escolhas”.

Se o figurino do festival se mantém fiel aquilo que foi adquirido ao longo do tempo, cada uma das secções vai ter, este ano, uma dimensão mais ambiciosa. “Este é o maior festival das nossas 25 edições. Vai ser uma viagem no tempo muito intensa, à história, ao presente e ao futuro”, prometeu Nuno Rodrigues.

E começou por enumerar as iniciativas de aniversário, com a edição de “um livro, uma exposição e uma carta-branca”, em que um conjunto de 25 cineastas, escritores, músicos, críticos e jornalistas evocam histórias do festival e escolhem um filme que os tenha marcado nas sucessivas edições. Paralelamente, uma exposição de fotografia, A glória de fazer cinema em Portugal (título que repete o de um documentário de Manuel Mozos), reconstitui essas duas décadas e meia no hall do velho Auditório Municipal, que acolheu o festival na primeira década e meia, e agora é de novo convocado para o Curtas.

No que à programação de cinema diz respeito, a abertura faz-se, ao final da tarde de 8 de Julho, com a antestreia nacional da mais recente longa-metragem de Aki Kaurismaki, O Outro Lado da Esperança, premiado no Festival de Berlim – e um autor que já esteve "in focus" em Vila do Conde.

Nesta mesma secção Da Curta à Longa, com que o festival começou a abrir os seus horizontes para lá da estrita catalogação da curta-metragem, vai ser exibido 24 Frames, filme póstumo de Abbas Kiarostami, desaparecido no ano passado. E, em antestreia mundial, a nova longa-metragem de Sandro Aguilar, Mariphasa, um cineasta cuja obra está indissoluvelmente ligada ao festival nortenho.

“Há 25 anos, as coisas eram bastante diferentes; mas, com o tempo, a curta-metragem deixou de ser o parente pobre do cinema e passou a poder falar-se dela como cinema, como arte do cinema”, reclamou Miguel Dias, também director, como introdução à divulgação da selecção para a competição nacional, que exibirá 16 filmes, nove deles em estreia mundial.

Sobre a competição internacional, Miguel Dias acredita que a lista de 37 títulos mostrará “a excelente colheita de 2016/17”. E destacou obras de realizadores já consagrados, como Jia Zhangke, Ben Rivers, Yann Gonzalez, Hu Wei, Laura Poitras ou a dupla Caroline Poggi-Jonathan Vinel, além da oportunidade para descobrir nomes como Laura Ferrés, Jonathas de Andrade ou Toru Takano.

Já a Competição Experimental propõe 24 filmes, entre os quais estão obras dos portugueses Tânia Dinis e Miguel Ildefonso. A marca experimental estará naturalmente presenta na selecção de Take One, com filmes de escola — de onde, em edições anteriores, sobressaíram nomes como João Salaviza e Leonor Teles.

Desde algumas edições atrás, o festival decidiu tornar também competitiva a secção Curtinhas, dando assim – explicou Mário Micaelo, o terceiro membro da direcção fundadora — uma feição mais exigente a filmes com que o festival quer “conquistar não apenas os espectadores mais novos, mas as famílias; ou seja, novos públicos” para o cinema. A abrir esta secção, será exibido o filme de animação Gru – O Mal Disposto 3.

Mário Micaelo explicou também o tema da exposição que, paralelamente ao festival, mas prolongando-se para além do seu termo no dia 16, vai estar instalada na galeria Solar: são seis instalações site-specific sobre o tema Terra, de autoria de Gabriel Abrantes e Ben Rivers, Mariana Caló e Francisco Queimadela, e também de Priscila Fernandes, Pedro Neves Marques, Joana Pimenta e Lúcia Prancha (com três obras). São “instalações, vídeos e filmes que estão na fronteira entre o cinema a as artes plásticas”, de autores de uma nova geração para quem o ambiente é uma tema incontornável e que manifestam preocupações ecológicas. Terra ficará patente até 17 de Setembro.

Hugo Ramos, director de produção do Curtas, lembrou a aposta que o festival sempre fez também na música. E citou os concertos e filmes-concertos da secção Stereo, que abre, logo na noite de 8 de Julho, com a Atlantic Coast Orchestra a musicar um clássico do cinema mudo, Pamplinas Maquinista (1926), de Buster Keaton.

Vinte e cinco anos após o início, o Curtas Vila do Conde parece definitivamente enraizado não apenas no calendário nacional (com a repercussão internacional conhecida), mas também no próprio território local. E um dos seus “frutos” reconhecidos pela autarquia é a recente instalação, em Vila do Conde, da Escola Superior de Media, Artes e Design (ESMAD), uma extensão do Instituto Politécnico do Porto. “O festival fez de Vila do Conde o território onde esta escola podia assentar melhor”, disse a presidente da câmara (e vereadora da Cultura) Elisa Ferraz, também presente na conferência de imprensa, onde prometeu a continuidade do apoio da autarquia.

A edição celebrativa do Curtas tem um orçamento especial de 300 mil euros — perto de dez vezes mais do que o custo da edição inaugural, em 1993, que andou pelos 5 mil contos (25 mil euros).

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