Ministra da Administração Interna não se demite "enquanto tiver a confiança" de Costa

Constança Urbano de Sousa vincou que "optou por dar a cara" quando o caminho mais fácil era a sua demissão.

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LUSA/PAULO CUNHA

A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, diz que o incêndio que deflagrou no sábado foi uma “situação anómala” e sublinha que é “prematuro” afirmar que o Estado falhou na protecção dos cidadãos que foram afectados.

“O mais fácil para um político perante uma dificuldade era demitir-se e eu optei por dar a cara e vir para o teatro de operações e ficar", declarou a ministra da Administração Interna, quando questionada sobre se teria condições para permanecer no cargo, em entrevista à RTP, esta quarta-feira. "Enquanto tiver a confiança do senhor primeiro-ministro, permaneço", garantiu.

"Não estou cá apenas para assumir responsabilidades, mas também para arranjar soluções para os problemas", fez saber, repetindo que vai permanecer em funções enquanto "tiver a confiança do senhor primeiro-ministro".

Constança Urbano de Sousa disse ainda que esteve “focada” em permanecer no local, uma vez que é importante do ponto de vista da decisão. “Também foi importante estar aqui para todos os que estavam a trabalhar verem que eu estava ao lado deles”, afirmou. 

A intensidade e dimensão da tragédia que atingiu o Pedrógão Grande e se estendeu às zonas vizinhas trouxe a debate vários temas, entre os quais a profissionalização dos bombeiros e a questão da monocultura. “Os bombeiros estão muito mais profissionalizados do que aquilo que possamos pensar”, defendeu a ministra, acrescentando que não é qualquer bombeiro que pode “estar empenhado num dispositivo de combate aos incêndios florestais".

Na terça-feira, a governante usou a expressão de "excesso de voluntarismo" para responder à decisão de não integrar, num primeiro momento, a ajuda de 60 bombeiros espanhóis. A ministra justificou a decisão com base na falta de coordenação com as equipas de bombeiros portuguesas e defendeu que o facto de os operacionais espanhóis não conhecerem o terreno dificulta a sua integração nas equipas portuguesas e que a decisão foi tomada para garantir segurança de todos os bombeiros. 

Sobre a questão da reforma florestal, em discussão há décadas, deixou um aviso: não terá “implementação imediata”. “Temos de apostar na protecção da nossa floresta e isso parte de um conjunto vasto de diplomas para uma reforma estrutural”, garantiu. “As reformas estruturais não têm efeitos imediatos, não têm implementação imediata”, disse a ministra, insistindo que estas são reformas de médio e longo-prazo.

Relativamente às reportadas falhas da rede SIRESP, a ministra diz que foi pedido um relatório circunstanciado para avaliar o que se passou com as comunicações, e afirma não ter havido “uma falha total”.

Constança Urbano de Sousa afirmou também que foram instaladas no local, às 20 horas de sábado, redes móveis “para reforçar e substituir redes transmissoras” que tinham sido danificadas, garantindo ter havido duas antenas móveis a funcionar por satélite para assegurar as comunicações.

A ministra da Administração Interna fez saber que ao longo do último ano a rede SIRESP foi “reforçada”, tendo sido “renovado o contrato com comunicações acrescidas e reforços para evitar falhas que já teria sido relatadas em situações anteriores”

Constança Urbano de Sousa afirma ser “prematuro” apontar falhas ao Estado na segurança e protecção dos cidadãos envolvidos, uma vez que ainda se encontram todos os meios no teatro de operações.  “Neste momento não devemos com certeza afirmar se era possível prevenir o que aconteceu e que o incêndio tivesse esta consequência catastrófica.”

Investigação independente

A ministra, por outro lado, admite abrir um inquérito ao caso. “Justifica-se uma investigação independente, essa investigação poderá ser feita através de uma comissão, parlamentar por exemplo, mas é preciso primeiro terminar todo este processo”, apontou. “Precisamos de perceber muito bem como resultou este fenómeno”, referiu, dizendo que está no local o professor Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais da Universidade de Coimbra, para fazer um estudo sobre a situação.

“Neste momento não disponho da ‘fita do tempo’ e é a ‘fita do tempo’ que nos vai dizer quem fez, o que fez, onde fez e a que horas fez tudo o que aconteceu a nível local e nacional.”

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