Mercadona já começou a registar marcas em Portugal

“Política de preços baixos” do grupo de distribuição espanhol já tem registo em Portugal. Só em 2019 as primeiras quatro unidades no país serão abertas: Vila Nova de Gaia (duas), Matosinhos e Gondomar.

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Juan Roig, fundador e actual presidente do grupo Mercadona

Apesar de manter a data das primeiras aberturas da sua rede de supermercados em Portugal para o ano de 2019, o grupo de distribuição espanhol Mercadona já começou a registar algumas das suas marcas comerciais de produtos e serviços no registo nacional.

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Apesar de manter a data das primeiras aberturas da sua rede de supermercados em Portugal para o ano de 2019, o grupo de distribuição espanhol Mercadona já começou a registar algumas das suas marcas comerciais de produtos e serviços no registo nacional.

Só em Maio e Junho o Boletim de Propriedade Industrial português dá conta de três pedidos de registo de marcas pelo grupo com sede em Valência. Um deles, explica fonte oficial da companhia espanhola em Portugal, refere-se à “política de preços baixos” da empresa. Tem a sigla “SPB”, de “sempre preços baixos”, mas a mesma fonte não adiantou mais pormenores sobre o registo.  

No site que já criou dirigido ao mercado nacional, a companhia explica que “a estratégia comercial da Mercadona é, desde 1993, a de SPB (Sempre Preços Baixos), que lhe permitiu crescer de forma sustentável e consolidar a sua posição de liderança”.  

O mote “everyday low price” é um conceito comercial assente numa política de negócios que visa criar no consumidor a percepção de redução transversal e constante dos preços numa rede de distribuição, por oposição aos seus principais concorrentes. É uma máxima dinamizada há décadas pela norte-americana Walmart, líder mundial no retalho alimentar, e tem como consequência um desenvolvimento acelerado das designadas “marcas próprias da distribuição”, separando-as das marcas da indústria. Contrasta, em teoria, com uma política comercial em que o foco é fidelizar os consumidores às lojas com a ocorrência periódica de promoções mais agressivas.

Em Portugal, basta abrir um folheto de qualquer cadeia de supermercados para ver a expressão ser utilizada, nas mais variadas formas: numa pesquisa rápida na Internet, a busca do conceito “preços sempre baixos” dá como resposta campanhas do Lidl (grupo Schwarz), Pingo Doce (grupo Jerónimo Martins) e Jumbo (grupo Auchan). “Sempre a preços mais baixos”, é igualmente parte da abordagem comunicacional que o grupo Continente (do grupo Sonae, dono do PÚBLICO) relançou em Julho de 2016. Agora, "sempre preços baixos" é também uma expressão com uma sigla e símbolo inscritos pela Mercadona no Rergisto Nacional de Marcas em Portugal.

Primeiras quatro aberturas todas a Norte

O grupo liderado por Juan Roig Alfonso anunciou há cerca de um ano a sua internacionalização com a vinda para Portugal. A Mercadona “estima investir inicialmente 25 milhões de euros e prevê criar cerca de 200 postos de trabalho nesta primeira fase de expansão", anunciou a 23 de Junho de 2016. Os primeiros quatro supermercados no território português estavam agendados para 2019, disse então o grupo, que em Espanha terminou o ano passado com 1614 lojas operacionais espalhadas pelas 17 comunidades autónomas.

Contactada, fonte oficial da Mercadona em Portugal mantém o plano traçado há um ano e o investimento de 25 milhões de euros na primeira etapa da expansão. “A nossa previsão é de abrir as primeiras quatro lojas em 2019”, reiterou. E sobre as quais já há desenvolvimentos.

“Já temos assinadas as quatro primeiras parcelas no Grande Porto: duas em Vila Nova de Gaia, uma em Matosinhos e uma em Gondomar”, acrescentou fonte do grupo de distribuição, que reitera o investimento planeado. “Os processos de licenciamento estão a decorrer dentro da normalidade”, avança ainda, em resposta escrita ao PÚBLICO. “Estamos a assinar parcelas nos municípios” em causa “para avançar com a construção das lojas”.

Em Janeiro passado, o grupo fez o seu primeiro negócio imobiliário para uma loja em Portugal, ao contratar 9000 metros quadrados para uma das duas lojas planeadas em Vila Nova de Gaia. O supermercado de Canidelo, que pode não ser o primeiro a abrir em Portugal, avisou então o grupo, terá uma área de venda prevista de 1.800 metros quadrados e contempla ainda um "armazém, zona de formação e 180 lugares de estacionamento".

Já sobre que base logística irá utilizar o grupo, a mesma fonte não avançou nenhuma localização, nem se ficará localizada em Portugal. “A localização da plataforma logística está ainda a ser avaliada”. Em Dezembro passado, o Jornal Económico avançava declarações de Rui Paulo Figueiredo, presidente da SIMAB – Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores dando a Mercadona como uma das potenciais interessadas em expandir actividades no MARL – Mercado Abastecedor Regional de Lisboa. Intenção que a empresa agora não menciona.

No início de Março, o grupo contabilizou para 2017 “o maior investimento da sua história: entre 1000 e 1200 milhões de euros”, onde além da internacionalização (para Portugal), estão também abrangidos o “estudo e desenvolvimento do projecto online” e a “manutenção e remodelação de 126 lojas, juntamente com a abertura de 30 novos supermercados” em Espanha. 

90 postos de emprego criados

O grupo anunciou em Julho do ano passado ter recebido um total de 5.000 candidaturas para os primeiros 120 postos de trabalho que iria criar de “chefia intermédia” em Portugal – ou seja, por cada uma das 120 colocações anunciadas, a Mercadona obteve mais de 41 propostas no país.

Agora, questionada sobre os contratos já realizados em território nacional, fonte oficial da companhia de distribuição adiantou: “temos contratados 90 colaboradores para postos de direcção média e continuamos a recrutar”.

Em Espanha, onde é líder do segmento onde opera, a Mercadona emprega 79.000 colaboradores, segundo o último relatório de actividade.

Compras de 52 milhões ao país

A Mercadona fechou o ano passado com 21 623 milhões de euros de facturação e 623 milhões de euros de lucros, após investir 685 milhões de euros, de acordo com o relatório e contas (já em língua portuguesa) que consta no site da empresa para Portugal.

No resumo do exercício de 2016, a administração da retalhista alimentar faz saber ainda que registou 16 055 milhões de euros de compras a fornecedores em Espanha. E em Portugal? “Estamos ainda a desenvolver a gama de produtos para as lojas de Portugal, pois temos de adaptar-nos aos chefes portugueses”, começa por explicar a fonte oficial, para acrescentar: “em 2016 comprámos produtos portugueses no valor de 52 milhões de euros”.

O “portefólio” de produtos adquiridos a fornecedores agrícolas, pesqueiros e industriais no país são, “para já”, “vendidos apenas em Espanha, pois em Portugal ainda não dispomos de lojas”, lembra a mesma fonte.

“Actualmente, chegam às lojas da Mercadona em Espanha produtos frescos, como frutas tropicais, kiwi, pêra rocha, tomate, peixe e carne, e também produtos elaborados, tais como o café, bolachas, refeições pré-cozinhadas e congeladas” com origem em Portugal. Mas, completa, “no leque de compras feitas a fornecedores portugueses constam também produtos alimentares básicos (como água e açúcar) e produtos de limpeza”.