A bondade alheia salvou Gareth das chamas: “Devíamos ter morrido”

Gareth Roberts viu-se cercado pelo fogo em Mó Grande e pensou que não iria sobreviver. Uma família chamou-o para que se abrigasse em sua casa e, por entre chamas e lágrimas, sobreviveu para contar a história.

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Gareth Roberts ficou cercado pelas chamas em Mó Grande Reuters/MIGUEL VIDAL

Gareth Roberts, de 36 anos, é um dos sobreviventes do incêndio em Pedrógão Grande, que provocou a morte a mais de 60 pessoas. Roberts nasceu em Lancashire, no Reino Unido, mas vive no centro de Portugal há quatro anos. À BBC o britânico contou a história de como conseguiu sobreviver às chamas.

Roberts estava a regressar de umas férias em Cadiz, em Espanha, enquanto via as chamas a devorarem os terrenos perto da IC8. O vento fazia com que os ramos caíssem em cima do carro, mas o britânico explica que não podia parar a viatura e que o calor se fazia sentir. Depois, ficou preso na aldeia de Mó Grande, já que havia um cruzamento cercado pelas labaredas. “Nós e alguns residentes estávamos a chorar, tomados pelo calor e pela rapidez do fogo. Estava escuro, tão escuro, por entre as chamas”, disse ao jornalista da BBC, Roland Hughes.

E foi aí que foram salvos pela generosidade: “Um homem e a sua mãe gritaram para que nos abrigássemos em casa dele. Muitos de nós fizeram-no.” Durante o tempo que estiveram na cave, mais pessoas foram chegando. Quando chegara à aldeia, Gareth Roberts tinha enviado uma mensagem aos pais em que dizia que estava numa aldeia cercado por fogo – “Isto é o fim”, disse-lhes. Na casa que lhe deu abrigo não tinha rede móvel nem Internet, o que o fez pensar que a última coisa que tinha dito aos pais era que iria morrer.

As chamas passaram pela casa e passaram cerca de uma hora a chorar, a rezar (mesmo não sendo Gareth religioso) e a tentar respirar, diz à BBC, acrescentando que ficou tão emocionado que não conseguiu parar de chorar durante 20 minutos. “Isto não pode acabar assim”, pensava. Depois, como que por milagre, o fogo passou – e nem a casa em que estava nem a casa ao lado arderam. A destruição em seu redor era “indescritível”.

“Podíamos ter morrido. Devíamos ter morrido. Um gesto de bondade aleatório na noite passada salvou-nos a vida e agora tudo o que podemos fazer é rezar por Portugal”, afirmou à estação britânica. “Se aquelas pessoas não tivessem sido generosas, não estaríamos aqui hoje."

Gareth Roberts viajou para Tomar, onde ficou num hotel até que o fogo lhe permita voltar a casa. O britânico espera poder voltar a Mó Grande para agradecer à família que lhe salvou a vida, revela à BBC.

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