Ainda há pastores — queres ser um?

Ser pastor por um dia é a proposta; conhecer os caminhos transumantes da serra da Estrela o desafio. A 1 de Julho, os rebanhos do concelho de Seia vão partir em direcção ao Sabugueiro e quem quiser pode acompanhá-los na festa da transumância

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Rafael Marchante/Reuters

O ritual era sempre o mesmo: no final de Outubro, princípios de Novembro, ou quando chegava a primeira neve, a maioria dos rebanhos descia da serra da Estrela para a chamada invernada. Cada pastor e rebanho instalava-se nas suas terras baixas ao abrigo das intempéries imprevisíveis da maior montanha de Portugal continental. No princípio de Maio, voltavam a subir a serra, à procura dos pastos verdejantes. A transumância já não é um modo de vida comum, mas ainda se cumpre na serra da Estrela, em Seia, onde continua profundamente enraizada. E no dia 1 de Julho quem quiser pode acompanhar os pastores do concelho na subida e ser pastor nem que seja por um dia apenas.

Os vários rebanhos, vindos das aldeias do sopé da serra, vão juntar-se no largo da câmara municipal pelas 7h30, antes de atravessarem a cidade em direcção à montanha. Saídos do perímetro urbano, seguirão pelos caminhos seculares, calcorreados por tantos outros transumantes rumo à que é conhecida como a aldeia dos pastores, o Sabugueiro. Neste percurso, os participantes terão vários momentos de animação, que inclui cancioneiro popular e gastronomia de montanha, para que se sintam mais envolvidos pela autenticidade do ritual.

Ainda antes deste dia de transumância, a 25 de Junho, a aldeia da Folgosa da Madalena recebe a Festa dos Pastores, com a romaria dos rebanhos à festa de São João Baptista. A partir das 18h, os pastores com as suas ovelhas vão desfilar, à vez, em volta da capela de São João Baptista, pedindo ao santo padroeiro um bom ano de pasto e protecção para o gado e cumprindo uma tradição antiga. Nesta ocasião, as ovelhas vão “trajar-se” a rigor com os melhores e maiores chocalhos “loiça” e enfeitadas com “peras e cabeçadas”.

Esta iniciativa faz parte da Grande Rota da Transumância, uma rede de percursos que terão ligado as planícies a sul da Serra da Estrela às encostas desta. Os trilhos ligavam as paisagens culturais e naturais das planícies e da montanha da Beira Interior, passando pelo GeoPark do Tejo Internacional e pela Paisagem Protegida da Serra da Gardunha com o mesmo destino: a serra da Estrela. Neste lento vaivém havia um encontro de tradições e costumes, que passavam pelo cancioneiro, danças, formas de falar que são uma herança imaterial da cultura popular.

Promovida pela Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede das Aldeias de Montanha (ADIRAM), as inscrições devem ser feitas através do e-mail adiram.associacao@gmail.com ou do site Aldeias de Montanha.

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