Bob Dylan acusado de plágio no “discurso” para o Nobel

Músico e intérprete de Blowin’ in the wind terá recorrido à ajuda de um site com resumos de clássicos da literatura para falar de Moby Dick.

Foto
Bob Dylan Robert Galbraith/ REUTERS

Decididamente, não terminou ainda o "folhetim" Bob Dylan-Nobel da Literatura 2016. Primeiro, foi a surpresa pela escolha do músico, compositor e cantautor norte-americano pela Academia Sueca, em Outubro do ano passado. Depois, as críticas dos meios literários internacionais. A seguir, o silêncio a que Dylan se remeteu antes de anuir à aceitação do prémio, logo seguido da ausência na cerimónia da sua atribuição, em Estocolmo.

Finalmente, no início deste mês de Junho, e a uma escassa semana do prazo-limite para a entrega do discurso de aceitação do Nobel – uma exigência que, a não ser cumprida, significaria a retenção do prémio monetário de 824 mil euros –, Bob Dylan fez chegar à Academia sueca o seu texto, onde homenageia Buddy Holly e evoca a literatura que o marcou, com referência expressa ao clássico de Herman Melville, Moby Dick.

Agora, surge a acusação de plágio na elaboração desse discurso. Num artigo publicado esta terça-feira na revista norte-americana Salte.com, a jornalista Andrea Pitzer enumera mais de uma dúzia de frases que integram o discurso para o Nobel e que repetem, ou apresentam grande semelhança com as notas de leitura do site Sparknotes, que oferece a estudantes de literatura e leitores em geral resumos de vários livros. É o caso de Moby Dick.

“Nas 78 frases do discurso que Dylan dedica à descrição de Moby Dick, uma inspecção rápida revela que mais de uma dúzia delas apresenta semelhanças com as notas de Sparknotes”, acusa Andrea Pitzker. E acrescenta um quadro que faz o paralelismo entre fragmentos do texto do cantautor americano e as notas daquele site.

Nem Dylan, nem os seus editores ou representantes reagiram, entretanto, ao artigo da Slate. Mas o New York Times (NYT), por exemplo, recorda que não é a primeira vez que o músico e compositor é acusado de plágio. “Ao longo dos anos, muitos professores universitários e críticos defenderam as suas técnicas, comparando-as com o próprio processo folk, no qual a matéria do passado é reciclada e adaptada pelas novas gerações, como acontece com os samples do hip-hop”.

E o NYT cita algumas das canções mais conhecidas de Dylan, como Blowin’ n the wind, The times they are a-changin ou Like a rolling stone, como exemplos dessa apropriação, ou “inspiração” a partir de diferentes fontes. O jornal cita também uma entrevista do músico à Rolling Stone, em 2012, em que este diz, a dada altura: “Escrever canções é assim. Vai com a melodia e o ritmo, e depois acontece de tudo. Nós apropriamo-nos de tudo. E isso, fazemo-lo todos”.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários