Deixem as aves

Em Chipre, é ilegal apanhar passarinhos para comer. Em Portugal, infelizmente, ainda há quem ache graça a esta barbaridade.

Não sei nada sobre aves ou ecologia mas parece-me, visto deste cantinho onde vivo, que nunca houve tantos pássaros — tão crescidos e bem-dispostos — como neste mês de Junho.

Há mais insectos e, pela primeira vez desde a infância, vi sardões e cobras, a apanhar sol ou a fugir dos meus passos. Será do aquecimento global? Será que estão a usar menos pesticidas e herbicidas? É um luxo poder oscilar entre pessimismo e optimismo. Estamos tão habituados ao pessimismo que aquilo que se passa diante dos nossos olhos começa por confirmar as nossas piores previsões — até os levantarmos e sermos deslumbrados pela multidão extática de andorinhões, a distrair-nos até sorrirmos.

Uma das vitórias da Primavera foi a de Chris Packham na ilha de Gozo, em Malta, o único país da União Europeia onde não é ilegal caçar espécies protegidas. Packham, cuja conta Twitter recomendo, foi julgado por ter sido acusado de agressão e invasão de propriedade privada. Para se ter ideia das circunstâncias não há nada como ver o hilariante vídeo do confronto, incluído no canal ChrisGPackham no YouTube. O juiz maltês que decidiu a inocência do valente activista britânico declarou que o comportamento dos agentes da polícia era digno de um canal italiano de comédia.

Em Chipre é ilegal apanhar passarinhos para comer — amebelopoulia é o nome do maldito prato —, mas os caçadores só raramente pagam pela crueldade e pela ganância de apanhá-los vivos. Em Portugal, infelizmente, ainda há quem ache graça a esta barbaridade.

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